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Supersônico
Cai na rede novo Sonic Youth, "The Eternal", disco com referências à arte de vanguarda e que marca volta à independência
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há duas maneiras básicas de
olhar para o Sonic Youth, grupo
que já tem quase 30 anos de
existência, verdadeira eternidade no universo novidadeiro
da música alternativa -não por
acaso, eles lançam seu 16º disco, "The Eternal", no próximo
dia 9. Já vazou na internet.
Para os detratores, eles resumem tudo o que os independentes (indies) têm de pior: o
SY seria o verdadeiro deus da
"tribo" que adora um All Star,
uma banda burocrática, só para
iniciados, que sacramentou o
ato de não saber tocar guitarra.
Já para os fãs, esses nova-iorquinos estão no nível de "clássicos" como o Velvet Underground e fazem arte pura, algo
mais elevado do que "reles"
música popular.
É justamente essa a direção
almejada por "The Eternal", a
começar pelo título (o eterno)
sugestivo de que esta é uma
obra atemporal, candidata à
posteridade. Se demonstra um
tanto de pretensão, o grupo
prova que não o faz por acaso.
O casal central, Thurston
Moore, 50, e Kim Gordon, 56,
está longe da adolescência, mas
mostra ânimo e peso renovados. É como se voltassem às
origens, já que, após a passagem de quase 20 anos por uma
grande gravadora, eles retornam a um selo independente.
O novo álbum faz uma série
de referências às artes e a nomes da vanguarda. Kim Gordon
abre o disco com "Sacred
Trickster", rock urgente, vigoroso, lembrando "Goo" (1990),
disco que previu a explosão
grunge; no site da gravadora, a
banda diz que homenageia aqui
o artista francês Yves Klein.
Na mesma toada, "Anti-Orgasm" faz uma ode ao amor livre, à modelo/ativista Uschi
Obermeier e ao grupo alemão
Kommune 1, que nos anos 60
contestou os valores conservadores da classe média. Ainda
que soe estranho um casal estável como Moore e Gordon, pais
de Coco, 14, cantar versos como
"amor livre, energia-chave/ penetração destrói o corpo", a
música consegue, em pouco
mais de seis minutos, resumir a
sonoridade da banda, que vai de
radicais distorções de guitarras
antipop a empolgantes passagens de bateria e do pesado e
pessoal baixo de Gordon.
Seu carisma durão, aliás, guia
"The Eternal", como os descontraídos "lalalás" de "Leaky Lifeboat", sobre a comparação da
vida na Terra a um bote salva-vidas furado feita pelo poeta
beat Gregory Corso. Ao final, na
longa (mais de nove minutos) e
sinuosa "Massage the History",
Gordon nos faz um misterioso
e irresistível convite: "Venha
comigo para o outro lado/ nem
todos sobrevivem".
THE ETERNAL
Artista: Sonic Youth
Gravadora: Matador Records (importado; R$ 25, em média, mais taxas, em
www.matadorrecords.com)
Avaliação: bom
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