São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Supersônico

Cai na rede novo Sonic Youth, "The Eternal", disco com referências à arte de vanguarda e que marca volta à independência

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há duas maneiras básicas de olhar para o Sonic Youth, grupo que já tem quase 30 anos de existência, verdadeira eternidade no universo novidadeiro da música alternativa -não por acaso, eles lançam seu 16º disco, "The Eternal", no próximo dia 9. Já vazou na internet.
Para os detratores, eles resumem tudo o que os independentes (indies) têm de pior: o SY seria o verdadeiro deus da "tribo" que adora um All Star, uma banda burocrática, só para iniciados, que sacramentou o ato de não saber tocar guitarra. Já para os fãs, esses nova-iorquinos estão no nível de "clássicos" como o Velvet Underground e fazem arte pura, algo mais elevado do que "reles" música popular.
É justamente essa a direção almejada por "The Eternal", a começar pelo título (o eterno) sugestivo de que esta é uma obra atemporal, candidata à posteridade. Se demonstra um tanto de pretensão, o grupo prova que não o faz por acaso.
O casal central, Thurston Moore, 50, e Kim Gordon, 56, está longe da adolescência, mas mostra ânimo e peso renovados. É como se voltassem às origens, já que, após a passagem de quase 20 anos por uma grande gravadora, eles retornam a um selo independente.
O novo álbum faz uma série de referências às artes e a nomes da vanguarda. Kim Gordon abre o disco com "Sacred Trickster", rock urgente, vigoroso, lembrando "Goo" (1990), disco que previu a explosão grunge; no site da gravadora, a banda diz que homenageia aqui o artista francês Yves Klein.
Na mesma toada, "Anti-Orgasm" faz uma ode ao amor livre, à modelo/ativista Uschi Obermeier e ao grupo alemão Kommune 1, que nos anos 60 contestou os valores conservadores da classe média. Ainda que soe estranho um casal estável como Moore e Gordon, pais de Coco, 14, cantar versos como "amor livre, energia-chave/ penetração destrói o corpo", a música consegue, em pouco mais de seis minutos, resumir a sonoridade da banda, que vai de radicais distorções de guitarras antipop a empolgantes passagens de bateria e do pesado e pessoal baixo de Gordon.
Seu carisma durão, aliás, guia "The Eternal", como os descontraídos "lalalás" de "Leaky Lifeboat", sobre a comparação da vida na Terra a um bote salva-vidas furado feita pelo poeta beat Gregory Corso. Ao final, na longa (mais de nove minutos) e sinuosa "Massage the History", Gordon nos faz um misterioso e irresistível convite: "Venha comigo para o outro lado/ nem todos sobrevivem".


THE ETERNAL

Artista: Sonic Youth
Gravadora: Matador Records (importado; R$ 25, em média, mais taxas, em www.matadorrecords.com)
Avaliação: bom




Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: USP teme perder obras de Edemar
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.