São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009 |
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62º Festival de Cannes "É necessário afrontar a memória", diz Almodóvar Diretor apresenta "Abrazos Rotos", filme em que protagonista tenta apagar o passado Ao falar sobre "Los Abrazos Rotos", diretor faz paralelo com a forma como a Espanha lida com as marcas da ditadura franquista
SILVANA ARANTES ENVIADA ESPECIAL A CANNES O diretor espanhol Pedro Almodóvar refilmou seu grande sucesso "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" (1987). A nova versão tem o título "Chicas y Maletas" (garotas e malas) e é o filme dentro do filme "Los Abrazos Rotos" (abraços rompidos), com o qual Almodóvar concorre à Palma de Ouro no Festival de Cannes. "Não se trata de uma auto-homenagem. Escolhi "Mulheres..." porque não precisava pagar direitos autorais", disse ontem Almodóvar, após a exibição de seu filme à imprensa. E também porque "todos os personagens [de "Abrazos Rotos'] trabalham no cinema, e eu precisava de uma comédia, o gênero que mais contrastava com a vida deles, que é bem dramática", afirmou o cineasta. O diretor de "Chicas y Maletas", Mateo Blanco (Lluís Homar), apaixona-se, durante as filmagens, pela atriz Lena (Penélope Cruz). O amor é recíproco, mas Lena é casada com o magnata Ernesto Martel (José Luis Gómez), que produz o filme, num estratagema para manter o domínio sobre ela. Tanto o longa de Blanco quanto sua relação com Lena terminam tragicamente, e ele apaga esse período da vida, assumindo a identidade de Harry Caine, pseudônimo com o qual assinava roteiros e livros. Almodóvar fez um paralelo entre a atitude de Blanco e a forma como a Espanha lida com marcas da ditadura franquista e afirmou entender que, "às vezes, é preciso esquecer para avançar". Mas disse que a Lei da Memória Histórica de seu país deveria ser mais efetiva, pois "há um momento em que é preciso afrontar a memória, como faz o personagem". Blanco/Caine recupera sua história e sua autoestima quando retorna ao próprio filme. Dessa forma, o personagem encarna o que talvez seja a maior certeza de Almodóvar: "O cinema aperfeiçoa a vida". Como em 2006, quando veio a Cannes com "Volver", também de Almodóvar, a atriz Penélope Cruz definiu o trabalho com o diretor como "um privilégio". Ela disse que, em "Abrazos", foi "mais difícil fazer os blocos de comédia, porque a comédia é delicada e precisa, sobretudo nas mãos de Pedro". Ele afirmou que rodar "Chicas y Maletas" foi "uma volta às origens, a um tempo em que fazia cinema com muito mais humor" e disse ter-se sentido "confortável e inspirado". "Volver" rendeu a Cruz e às demais integrantes do elenco feminino um prêmio coletivo de interpretação em Cannes. Vou, mas posso voltar "Vou embora na sexta, para não dar a impressão de que estou esperando um prêmio", disse Almodóvar. "Mas estou disposto a voltar no domingo [dia da premiação], mesmo que seja para entregar o troféu ao melhor ator ou diretor." O cineasta afirmou que "está mudando" uma das marcas de seu cinema, que é a primazia de "personagens femininas fortes e inexpugnáveis" ao lado de "homens débeis e escuros". "As personagens masculinas me intimidam, porque eu sou a referência. Mas, cada vez mais, terei personagens masculinas. Só que as que me ocorrem são horríveis. No entanto, como sou um médium das histórias que escrevo, terá de ser assim." Texto Anterior: Conexão Pop: Presente e futuro da música Próximo Texto: Marco Bellocchio aborda derrota de Mussolini Índice |
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