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Marco Bellocchio aborda derrota de Mussolini
DA ENVIADA A CANNES
"Vincere" (vencer), concorrente do diretor italiano Marco
Bellocchio à Palma de Ouro em
Cannes, exibido ontem, termina com a derrota do ditador Benito Mussolini (1883-1945).
A vitória a que o título se refere é de Ida Dalser (Giovanna
Mezzogiorno), mulher que
Mussolini (Filippo Timi) tentou apagar da história -em vão.
Em 1914, Ida teve um filho
com Mussolini. Na época, este
apenas iniciava sua carreira na
política e teve dela irrestrito
apoio, inclusive financeiro.
À medida que Mussolini se
projeta como líder fascista, sua
relação com Ida se deteriora.
Uma amante e um filho fora do
casamento seriam complicadores na aproximação do Duce
com o Vaticano, movimento
que "Vincere" salienta com
imagens de arquivo que mostram o ditador ao lado do papa.
"Na tradição do antifascismo
italiano, vemos sempre os
grandes personagens, que pertenciam ao partido de oposição.
Ida é uma mulher que o apoiou
de início e se tornou uma heroína trágica. Isso me pareceu
mais do que suficiente para fazer um filme", disse Bellocchio.
Como se torna inconveniente para Mussolini a disposição
de Ida de ser reconhecida como
mãe de seu filho, proclamando
o fato até para o papa, ela acaba
sendo internada à força num
hospício, de onde nunca conseguirá sair. O filho dos dois tem
destino semelhante.
O regime fascista tentou apagar todos os registros da história de Ida. No fato de não haver
conseguido está a vitória ressaltada por Bellocchio.
Giovanna Mezzogiorno, que
faz uma interpretação de Ida à
altura de qualquer prêmio, disse que ela e o diretor foram
atentos "à complexidade dessa
personagem, uma quase feminista que sacrificou a própria
vida por um homem" e tomaram cuidados para não retratá-la "como histérica, insana".
Bellocchio disse que também
se esforçou para usar as muitas
imagens de arquivo de tal maneira que elas "formassem um
corpo único com o filme, e não
fossem inseridas como um documentário, com caráter informativo ou pedagógico".
A unidade narrativa era indispensável para, segundo
Bellocchio, inscrever o filme
"na tradição melodramática na
qual eu me formei e que andou
tão desprezada ultimamente".
A reação da maior parte da
crítica a "Vincere" em Cannes
passou longe do desprezo. Mas
como não se pode prever qual
será o veredicto do júri, o diretor disse: "Aconteça o que
acontecer, tenho muito orgulho de ter feito esse filme".
(SA)
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