São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

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Marco Bellocchio aborda derrota de Mussolini

DA ENVIADA A CANNES

"Vincere" (vencer), concorrente do diretor italiano Marco Bellocchio à Palma de Ouro em Cannes, exibido ontem, termina com a derrota do ditador Benito Mussolini (1883-1945).
A vitória a que o título se refere é de Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno), mulher que Mussolini (Filippo Timi) tentou apagar da história -em vão.
Em 1914, Ida teve um filho com Mussolini. Na época, este apenas iniciava sua carreira na política e teve dela irrestrito apoio, inclusive financeiro.
À medida que Mussolini se projeta como líder fascista, sua relação com Ida se deteriora. Uma amante e um filho fora do casamento seriam complicadores na aproximação do Duce com o Vaticano, movimento que "Vincere" salienta com imagens de arquivo que mostram o ditador ao lado do papa.
"Na tradição do antifascismo italiano, vemos sempre os grandes personagens, que pertenciam ao partido de oposição. Ida é uma mulher que o apoiou de início e se tornou uma heroína trágica. Isso me pareceu mais do que suficiente para fazer um filme", disse Bellocchio.
Como se torna inconveniente para Mussolini a disposição de Ida de ser reconhecida como mãe de seu filho, proclamando o fato até para o papa, ela acaba sendo internada à força num hospício, de onde nunca conseguirá sair. O filho dos dois tem destino semelhante.
O regime fascista tentou apagar todos os registros da história de Ida. No fato de não haver conseguido está a vitória ressaltada por Bellocchio.
Giovanna Mezzogiorno, que faz uma interpretação de Ida à altura de qualquer prêmio, disse que ela e o diretor foram atentos "à complexidade dessa personagem, uma quase feminista que sacrificou a própria vida por um homem" e tomaram cuidados para não retratá-la "como histérica, insana".
Bellocchio disse que também se esforçou para usar as muitas imagens de arquivo de tal maneira que elas "formassem um corpo único com o filme, e não fossem inseridas como um documentário, com caráter informativo ou pedagógico".
A unidade narrativa era indispensável para, segundo Bellocchio, inscrever o filme "na tradição melodramática na qual eu me formei e que andou tão desprezada ultimamente".
A reação da maior parte da crítica a "Vincere" em Cannes passou longe do desprezo. Mas como não se pode prever qual será o veredicto do júri, o diretor disse: "Aconteça o que acontecer, tenho muito orgulho de ter feito esse filme". (SA)



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