São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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DVD

Caixa abrange quatro longas e um documentário com curiosidades; filme de Tim Burton sobre diretor também é lançado

Coleção revela o melhor do pior de Ed Wood

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Adeptos do quanto melhor pior saem a campo com freqüência para afirmar que Edward D. Wood Jr. (1924-1978) não só não é o pior diretor de todos os tempos como é, provavelmente, um dos melhores. "Um gênio", como sustenta alguém em "Discos Voadores sobre Hollywood".
O documentário acompanha "Plano 9 do Espaço Sideral" e faz parte da caixa com quatro discos lançada pela Continental e dedicada ao diretor, produtor, ator e roteirista que outro filme, "Ed Wood", de Tim Burton, tornou conhecido mundialmente.
Visto por Burton, Wood é um sujeito dinâmico, sincero, dotado de uma vontade enorme de dizer algumas coisas em celulóide e de um amor acentuado pelo cinema. Um sujeito com coragem bastante para trazer à tela um drama íntimo como seu gosto por vestir roupas femininas ("Glen ou Glenda") e com coração grande o bastante para amparar Bela Lugosi em seu dramático final de vida.
Mais do que isso, porém, Burton opõe-se à fama que lhe colaram certos críticos de "pior cineasta do mundo". Sejam quais forem os defeitos de seus filmes, eles são dotados de uma paixão e de uma pessoalidade que parecem bastar para justificá-los. Não há como compará-lo, nesse nível, ao artesão que vende seu trabalho para o estúdio fazendo o filme que lhe mandam. Isso não. Ed Wood era seu próprio patrão.
Ou quase isso, pois são imensas as dificuldades nessa indústria. E tome Ed Wood sendo batizado para agradar à comunidade religiosa que vai lhe financiar um filme, ou contratando uma atriz porque ela se dispõe (ou ele pensa assim) a pagar para ficar com o papel. A lista é interminável.
"Ed Wood" é um ótimo filme não só porque Ed Wood é um ótimo personagem, mas também pela defesa que faz da pureza cinematográfica de Ed contra os críticos agentes da indústria. "Discos Voadores" trará algumas curiosidades, como a verdadeira Vampira, entre outros.
De todo o pacote, o mais árduo são os filmes de Ed: além de "Plano 9" e "Glen ou Glenda", inclui "A Noiva do Monstro" e o menos célebre "A Face do Crime".
Todos trazem alguma curiosidade, em geral pelo lado mambembe da coisa. "A Noiva do Monstro", por exemplo, traz a luta de homens contra um polvo de borracha cujos tentáculos o próprio ator precisava agitar. Já "Plano 9" é aquele em que Ed Wood concebeu a gambiarra de criar um filme para Bela Lugosi depois que Lugosi havia morrido, apenas para aproveitar os poucos planos dele que tinha já rodados.
E por aí vai. O essencial: Ed Wood não é apenas um cineasta de filmes pobres. É também um mau cineasta. Enquadra mal quase sempre, é um roteirista medíocre, seus filmes aspiram à convencionalidade, embora sejam quase sempre mal-ajambrados.
No entanto, com freqüência, alguma qualidade (eventualmente negativa) sobressai o bastante para tirá-lo da esfera do medíocre. Há grandeza em Ed Wood, nem que seja pelas grandes besteiras. Dessa grandeza é que "Ed Wood" dá conta, melhor do que seus filmes, embora não a esgote. Mesmo que para se encher, é preciso ver um deles, ao menos uma vez.


EDWARD D. WOOD JR. - O PIOR DE TODOS. Coleção com "Glen ou Glenda" (53), "A Face do Crime" (54), "A Noiva do Monstro" (55) e "Plano 9 do Espaço Sideral" (59). Distribuidora: Continental. Quanto: R$ 160, em média.

ED WOOD. Direção: Tim Burton. Produção: EUA, 1994. Distribuidora: Buena Vista. Quanto: R$ 45, em média.



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