São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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TURISMO CULTURAL

Sala São Paulo e Pinacoteca estão no roteiro de grupos e excursões

"Migrantes" engrossam renda de eventos e casas paulistanas

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"O melhor de tudo é que você desce do ônibus na porta do teatro, vai jantar e depois o ônibus te leva para dormir em casa."
A casa da professora aposentada Arilza Camargo Pacheco, 66, fica em Itapira, a 170 km de São Paulo. Vestindo um blazer chinês com detalhes em dourado, ela embarcou com cerca de 40 colegas, num sábado de maio, para assistir ao musical "Chicago" no teatro Abril, na Bela Vista.
Outros endereços da cidade, como o Masp, a Pinacoteca, as casas de shows Tom Brasil e a Sala São Paulo também recebem grupos do chamado "turismo cultural".
No Masp, no Tom Brasil e no teatro Abril, por exemplo, segundo responsáveis pelo atendimento, as excursões equivalem a cerca de 30% do público. E aí não entram os grupos de estudantes que normalmente visitam essas instituições durante a semana. O turismo cultural demonstra mais fôlego de sexta a domingo.
Segundo o diretor da divisão de teatro da CIE Brasil, Jorge Takla, o espectador típico desses grupos são idosos de classe média e profissionais liberais. Em alguns casos, quando o passeio dura mais de um dia, entram na agenda outros itens da programação da cidade. Foi o que fez um grupo do Rio organizado pela agência de Moisés Zajler.
O ônibus chegou ao hotel às 13h30. Duas horas depois, o grupo já estava no Centro Cultural Judaico para ver uma exposição. À noite, foi a "Chicago". No dia seguinte, foram à mostra "Picasso na Oca", assistiram a um concerto da Osesp na Sala São Paulo e ao show do bandolinista Hamilton de Holanda no Sesc Pompéia.
No domingo, após o café da manhã, concerto da pianista Valdilice de Carvalho no Museu da Casa Brasileira. Após o almoço, o retorno para o Rio. A viagem custou R$ 650 a cada um dos 35 participantes, com hospedagem, parte da alimentação e ingressos.
"As pessoas ficam entusiasmadas com a diversidade da agenda sugerida, mesmo quando não têm propriamente um tempo livre para passear", diz Zajler, 67.
Para a secretária estadual da Cultura, Cláudia Costin, 47, a elite brasileira não associa o turismo à cultura aqui no Brasil. "Quando viaja ao exterior, nossa elite vai a museus importantes, assiste a concertos, mas quando vem a São Paulo, ela raramente freqüenta espaços que são referência no continente, como a Pinacoteca."
Casar o turismo de negócios com o turismo cultural tem sido uma das preocupações do setor na cidade, diz o presidente da Anhembi Turismo e Eventos, Celso Marcondes. Segundo dados do órgão, 66,8% dos visitantes vêm a trabalho; 17,8% por outros motivos (saúde, estudos, visita a parentes); 15,4% por lazer. "Queremos que o profissional de negócios fique mais dias por conta da oferta de entretenimento cultural, gastronômico, esportivo etc."
A movimentação, que tende a crescer, desperta atenção para o problema do trânsito, diz Marcondes. A concentração de ônibus ou vans no entorno desses espaços, cujos estacionamentos vizinhos raramente comportam veículos para transporte coletivo, tornou-se item obrigatório a ser tratado por quem encabeça os grupos e por quem os recebe.


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