São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FESTIVAL

Edição encerrada ontem atraiu cerca de 40 mil pessoas com grupos como o dinamarquês Odin Teatret e o brasileiro Lume

Londrina mantém olhar "inclusivo" para o teatro

VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A LONDRINA

Uma mostra de artes cênicas que abre com um solo do ator Cacá Carvalho, fecha com o grupo Lume e ainda saúda Paulinho da Viola no último final de semana. É por essas e muitas outras que o Festival Internacional de Londrina, o Filo, festa que terminou ontem, conforma uma identidade de feições artística, política e social jamais dissociadas em 38 anos de travessia.
O embrião universitário do final dos anos 60 evoluiu para o exercício de uma "cultura inclusiva", patente nas atividades extensivas a presos e idosos, por exemplo, e na circulação de grupos latino-americanos, dos quais o Brasil é tão perto e tão longe. Em suma, arte de transpor muros sem demagogia.
Foram 17 dias de longas filas para assistir aos espetáculos locais, regionais, nacionais e internacionais, compartimentações que, parece, têm pouco efeito sobre aqueles que se deixam atrair pelas apresentações gratuitas ou pagam R$ 10 ou R$ 5 -a organização estima cerca de 40 mil espectadores.
Os ingressos não têm lugar marcado, o que poderia soar anacrônico. No calçadão em frente ao teatro Ouro Verde (850 lugares), um dos seis espaços do festival, além da rua, o clima é de cordialidade numa sessão de "After Eros", da dançarina americana Maureen Fleming.
Esforça-se para respeitar a ordem de chegada em meio ao agito de vendedores de água, cerveja, doces e pipoca. Um público jovem, que cresceu indo ao teatro. Mesmo à noite, crianças acompanham seus pais.
Ou moleques como o foram o diretor Paulo de Moraes, da Armazém Companhia de Teatro, o dramaturgo Mário Bortolotto, do grupo Cemitério de Automóveis, e o compositor Arrigo Barnabé (a cidade abriga um tradicional festival de música), esses "filhos" da cena cultural de Londrina radicados no eixo Rio-São Paulo.

A força das imagens
No panorama de espetáculos de 12 países e oito Estados, fixa-se a opção por um profundo sentido do fazer teatral. Um ou outro processos dão preponderância ao texto ou ao espaço cênico-visual, mas jamais diluem o peso do seu intérprete.
Na palheta deste Filo, figuram imagens poderosas como a do grupo russo Akhe em "White Cabin", desconstrução surrealista da morte como metáfora do indivíduo e da sociedade; ou a nuvem intermitente de papéis picados e coloridos em "A Luta do Negro e dos Cães", com o grupo alemão Volksbühne.
Há um corpo antropológico cristalizado, cada um a seu modo, em projetos como o de Cacá Carvalho ("A Poltrona Escura"), do Lume ("Shi-Zen, 7 Cuias") e do grupo dinamarquês Odin Teatret ("Salt", um solo memorável da italiana Roberta Carreri).
Reunidos num mesmo tempo e espaço reinventados pelo Filo, permitem um olhar privilegiado ao público e aos artistas que por aqui transitam.
O mesmo para a ênfase mais política de montagens coma "Arena Conta Danton", da paulista Cia. Livre; "El un Sol Amarillo", do grupo boliviano Teatro de los Andes; e "La Estupidez", dos argentinos do El Patrón Vázquez. São brados diante do horror nas ditas democracias contemporâneas.
Tudo a retroalimentar o poder das poesias cênica e dramatúrgica em companhias incipientes, como espanca!, de Belo Horizonte ("Por Elise"), e A4, de Salvador ("InSônia"). Ou a tarimbada Cia. dos Atores ("Ensaio.Hamlet").


O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do Filo 2005


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Cinema: Projeto cinematográfico "une" a Iugoslávia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.