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FESTIVAL
Edição encerrada ontem atraiu cerca de 40 mil pessoas com grupos como o dinamarquês Odin Teatret e o brasileiro Lume
Londrina mantém olhar "inclusivo" para o teatro
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A LONDRINA
Uma mostra de artes cênicas
que abre com um solo do ator Cacá Carvalho, fecha com o grupo
Lume e ainda saúda Paulinho da
Viola no último final de semana. É
por essas e muitas outras que o
Festival Internacional de Londrina, o Filo, festa que terminou ontem, conforma uma identidade de
feições artística, política e social
jamais dissociadas em 38 anos de
travessia.
O embrião universitário do final
dos anos 60 evoluiu para o exercício de uma "cultura inclusiva",
patente nas atividades extensivas
a presos e idosos, por exemplo, e
na circulação de grupos latino-americanos, dos quais o Brasil é
tão perto e tão longe. Em suma,
arte de transpor muros sem demagogia.
Foram 17 dias de longas filas para assistir aos espetáculos locais,
regionais, nacionais e internacionais, compartimentações que, parece, têm pouco efeito sobre aqueles que se deixam atrair pelas
apresentações gratuitas ou pagam
R$ 10 ou R$ 5 -a organização estima cerca de 40 mil espectadores.
Os ingressos não têm lugar marcado, o que poderia soar anacrônico. No calçadão em frente ao
teatro Ouro Verde (850 lugares),
um dos seis espaços do festival,
além da rua, o clima é de cordialidade numa sessão de "After
Eros", da dançarina americana
Maureen Fleming.
Esforça-se para respeitar a ordem de chegada em meio ao agito
de vendedores de água, cerveja,
doces e pipoca. Um público jovem, que cresceu indo ao teatro.
Mesmo à noite, crianças acompanham seus pais.
Ou moleques como o foram o
diretor Paulo de Moraes, da Armazém Companhia de Teatro, o
dramaturgo Mário Bortolotto, do
grupo Cemitério de Automóveis,
e o compositor Arrigo Barnabé (a
cidade abriga um tradicional festival de música), esses "filhos" da
cena cultural de Londrina radicados no eixo Rio-São Paulo.
A força das imagens
No panorama de espetáculos de
12 países e oito Estados, fixa-se a
opção por um profundo sentido
do fazer teatral. Um ou outro processos dão preponderância ao
texto ou ao espaço cênico-visual,
mas jamais diluem o peso do seu
intérprete.
Na palheta deste Filo, figuram
imagens poderosas como a do
grupo russo Akhe em "White Cabin", desconstrução surrealista da
morte como metáfora do indivíduo e da sociedade; ou a nuvem
intermitente de papéis picados e
coloridos em "A Luta do Negro e
dos Cães", com o grupo alemão
Volksbühne.
Há um corpo antropológico
cristalizado, cada um a seu modo,
em projetos como o de Cacá Carvalho ("A Poltrona Escura"), do
Lume ("Shi-Zen, 7 Cuias") e do
grupo dinamarquês Odin Teatret
("Salt", um solo memorável da
italiana Roberta Carreri).
Reunidos num mesmo tempo e
espaço reinventados pelo Filo,
permitem um olhar privilegiado
ao público e aos artistas que por
aqui transitam.
O mesmo para a ênfase mais política de montagens coma "Arena
Conta Danton", da paulista Cia.
Livre; "El un Sol Amarillo", do
grupo boliviano Teatro de los Andes; e "La Estupidez", dos argentinos do El Patrón Vázquez. São
brados diante do horror nas ditas
democracias contemporâneas.
Tudo a retroalimentar o poder
das poesias cênica e dramatúrgica
em companhias incipientes, como espanca!, de Belo Horizonte
("Por Elise"), e A4, de Salvador
("InSônia"). Ou a tarimbada Cia.
dos Atores ("Ensaio.Hamlet").
O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do Filo 2005
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