TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

De dentro do ônibus que segue rumo à ponte do Socorro, uma mulher observa atenta ao movimento de 12 pessoas vestidas de branco manipulando grandes novelos de lã. É fim de tarde e, poucos metros à frente, o veículo vai cruzar o rio Pinheiros em direção à periferia da zona sul de SP.
A cena -que causa estranhamento em qualquer pessoa e em qualquer lugar- é parte da performance "Circunvolvendo", que Beth Moysés, 44, realizou em lugares degradados pela pobreza, nas cinco regiões da capital, durante as últimas duas semanas.
As personagens da performance são mulheres humildes, em geral, vítimas de violência -doméstica ou social.
Na praça da Sé, por exemplo, a artista convidou para a performance mulheres que estavam em uma casa-abrigo.
"Antes de começar, peço para que elas pensem que com a lã estão envolvendo o planeta com coisas boas. Elas fazem uma espécie de mandala para a cidade."
Beth registra a ação em vídeo e em fotos e, depois da experiência, as mulheres dão seus depoimentos. Desenvolvido no projeto "Ocupação", do Paço das Artes, na USP, o resultado mistura às imagens falas das participantes.
"O trabalho faz com que essas mulheres passem por uma situação diferente. É uma vivência catártica", afirma a artista.
Após a performance, a cesta básica doada como cachê parecia secundária. "Dentro de casa, muitas sofrem, passam momentos difíceis. Aqui, estava flutuando", conta a dona-de-casa Josefa Araújo, 51. "É uma forma de tirar as mulheres do cativeiro", completa.
Em julho, Beth repete o trabalho na Espanha, onde já realizou neste ano outras duas performances. "Lá, o índice de violência contra a mulher é altíssimo, e o meu trabalho acaba ganhando espaço", diz.
Para discutir a condição feminina e a violência, a artista realiza trabalhos nos quais estão presentes principalmente símbolos ligados ao casamento e às mulheres.
Uma de suas mais famosas performances foi a "passeata de noivas" feita na avenida Paulista, em 2000, e em Sevilha em março deste ano. Em Las Palmas (Espanha), Beth realizou "Reconstruindo Sonhos", na qual mulheres que passaram por agressão bordam em uma luva uma nova linha da vida.


Texto Anterior: Ilustrada: Fashion Rio revela nova verdade tropical
Próximo Texto: Música: Especial esquadrinha canções de protesto
Índice