Conterrâneo e um dos compositores prediletos da cantora baiana lança CD

"Cidade e Rio" tem músicas sobre a degradação do rio Subaé, sons típicos do Recôncavo, eletrônica, Lenine e Pedro Luis

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

Roberto Mendes conta que um jornalista chamou "Cidade e Rio", seu nono disco, de cópia de "Pirata" (2006), o CD de Maria Bethânia sobre águas doces. Em vez de aborrecido, o conterrâneo da cantora baiana ficou orgulhoso: "Bethânia é a grande mãe, me respalda, me protege. Componho para ela e para Santo Amaro [da Purificação]".
Desde 1983, Bethânia tem gravado com freqüência composições de Mendes. Em "Pirata" foram "Beira-mar" (parceria com Capinan) -Prêmio Tim de melhor canção do ano- e "Memória das Águas" (com Jorge Portugal).
As duas estão em "Cidade e Rio", antecedidas pela faixa-título (com Guinga ao violão) e por "Purificar o Subaé" (Caetano Veloso), canções de amor por santo Amaro e tristeza pela destruição, em nome do progresso, do rio Subaé. "Tive o mesmo endereço a vida toda. Acompanhei a linha evolutiva dessa degradação. Para mim, já é natural. Dor horrível têm Bethânia e Caetano, que ainda se assustam quando vêm aqui", diz ele, por telefone.
Mendes, 55, é um pesquisador dos sons do Recôncavo Baiano. No CD, "Memória das Águas" é aberta pelo Grupo de Chulas de são Braz. "Minha maior preocupação é não ferir as matrizes", assinala.
Mas o disco não é tradicionalista. Pedro Luis e Lenine participam, respectivamente, de "Linda Morena" e "Tira Essa Mulher da Roda". E Leonardo Mendes, seu filho, pôs eletrônica e guitarras em três faixas.
"Filho é uma coisa complicada, quebra a rigidez. Se não fosse isso, seria um disco cansativo e até cafona", diz. Mas predominam os violões e as percussões, a evocação do ambiente do Recôncavo, como fica claro em "Deu Saudade" (dueto com Alcione).
"Meu pai morreu cedo, e a presença da ausência dele marcou minha vida inteira. A música me salvou. Eu me debrucei na memória e nunca tive contato com o futuro", diz Mendes.