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Para autores, cortes foram benéficos
Escritores consideram que edição agressiva de Gordon Lish evidenciou "brilho" de contos e ajudou reputação de Carver
Lendário editor se recusa a falar sobre autor, mas diz
à Folha que seu maior feito foi "publicar o que outros não teriam publicado"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tanto Tess Gallagher, viúva
de Raymond Carver, quanto o
Riccardo Duranti, tradutor do
autor na Itália, dizem que o rótulo de minimalista o incomodava. Alguns estudiosos da obra
do escritor, porém, consideram
a versão editada por Gordon
Lish melhor que a original.
"Não acho que Carver teria a
reputação que tem hoje se esses
contos tivessem sido publicados sem as correções. As versões editadas são mais bem-sucedidas esteticamente. Isso levanta questões sobre o que significa ser um autor ou um editor", opina Brian Evenson, professor de literatura da Universidade Brown e um dos primeiros a consultar os manuscritos.
Ele diz que, na época, há mais
de dez anos, o advogado de Tess
Gallagher ameaçou processá-lo
caso publicasse as conclusões
da pesquisa. Ela argumenta que
não considerava justo que se falasse sobre o livro antes de o
público ter acesso ao texto.
Gordon Lish, hoje com 75
anos, é um personagem quase
lendário no meio literário americano. Ex-editor de ficção da
prestigiosa revista "Esquire" e
ex-chefe do departamento de
ficção da editora Alfred A.
Knopf (até 1995), ele lançou,
além de Carver, autores como
Don DeLillo e Cynthia Ozick.
Também criou e dirigiu revistas literárias, deu aulas de
escrita criativa e escreveu mais
de dez romances e livros de
contos. Após anos de ausência
da vida pública, voltou a dar aulas neste mês, em Nova York.
Admirado por muitos como escritor e editor, também atraiu
críticas por sua maneira "agressiva" de editar e seus métodos
pouco ortodoxos de ensino.
Contatado pela Folha, Lish
se recusou a falar sobre Carver.
Disse que seu feito mais importante foi "publicar o que outros
não teriam publicado": "Qualquer um teria publicado Don
DeLillo. Mas algum outro teria
publicado, por exemplo, Dawn
Raffel ou Gary Lutz?".
Lutz disse à Folha por e-mail
que "Lish é o tipo de editor que
a maioria dos escritores só encontra em sonhos".
Entre
"What We Talk about When
We Talk about Love", o livro
editado por Lish, e "Iniciantes", o original que sai agora, o
escritor fica com o primeiro: "A
versão original é cansativa e
sem graça. A versão de Lish colocou em evidência o brilho de
Carver".
(KÊNYA ZANATTA)
INICIANTES
Autor: Raymond Carver
Tradução: Rubens Figueiredo
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 49 (296 págs.)
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