São Paulo, sábado, 20 de junho de 2009

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Para autores, cortes foram benéficos

Escritores consideram que edição agressiva de Gordon Lish evidenciou "brilho" de contos e ajudou reputação de Carver

Lendário editor se recusa a falar sobre autor, mas diz à Folha que seu maior feito foi "publicar o que outros não teriam publicado"


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Tanto Tess Gallagher, viúva de Raymond Carver, quanto o Riccardo Duranti, tradutor do autor na Itália, dizem que o rótulo de minimalista o incomodava. Alguns estudiosos da obra do escritor, porém, consideram a versão editada por Gordon Lish melhor que a original. "Não acho que Carver teria a reputação que tem hoje se esses contos tivessem sido publicados sem as correções. As versões editadas são mais bem-sucedidas esteticamente. Isso levanta questões sobre o que significa ser um autor ou um editor", opina Brian Evenson, professor de literatura da Universidade Brown e um dos primeiros a consultar os manuscritos.
Ele diz que, na época, há mais de dez anos, o advogado de Tess Gallagher ameaçou processá-lo caso publicasse as conclusões da pesquisa. Ela argumenta que não considerava justo que se falasse sobre o livro antes de o público ter acesso ao texto.
Gordon Lish, hoje com 75 anos, é um personagem quase lendário no meio literário americano. Ex-editor de ficção da prestigiosa revista "Esquire" e ex-chefe do departamento de ficção da editora Alfred A. Knopf (até 1995), ele lançou, além de Carver, autores como Don DeLillo e Cynthia Ozick.
Também criou e dirigiu revistas literárias, deu aulas de escrita criativa e escreveu mais de dez romances e livros de contos. Após anos de ausência da vida pública, voltou a dar aulas neste mês, em Nova York. Admirado por muitos como escritor e editor, também atraiu críticas por sua maneira "agressiva" de editar e seus métodos pouco ortodoxos de ensino. Contatado pela Folha, Lish se recusou a falar sobre Carver.
Disse que seu feito mais importante foi "publicar o que outros não teriam publicado": "Qualquer um teria publicado Don DeLillo. Mas algum outro teria publicado, por exemplo, Dawn Raffel ou Gary Lutz?". Lutz disse à Folha por e-mail que "Lish é o tipo de editor que a maioria dos escritores só encontra em sonhos".
Entre "What We Talk about When We Talk about Love", o livro editado por Lish, e "Iniciantes", o original que sai agora, o escritor fica com o primeiro: "A versão original é cansativa e sem graça. A versão de Lish colocou em evidência o brilho de Carver". (KÊNYA ZANATTA)


INICIANTES

Autor: Raymond Carver
Tradução: Rubens Figueiredo
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 49 (296 págs.)




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