São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Casa Laboratório da Pontedera adapta "Quixote"

DO ENVIADO A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Nasceu o grupo artístico da Casa Laboratório para as Artes do Teatro (Clat), extensão da italiana Fondazione Pontedera Teatro no Brasil, em São Paulo.
Passados seis meses de atividades, desde o lançamento do projeto, foram definidos 16 nomes (13 atores, três produtores) pinçados entre 700 candidatos.
A seleção foi gradativa, com acompanhamentos do diretor-artístico da Pontedera, Roberto Bacci, da sua co-diretora e produtora, Carla Pollastrelli, e do ator brasileiro Cacá Carvalho (dirigido por Bacci no solo "A Poltrona Escura", no teatro Alfa).
O recém-criado grupo da Clat já ensaia a sua primeira montagem, uma adaptação de "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes. A estréia será em abril de 2005, ano do centenário da publicação do livro -Carvalho assinará a direção, e Márcio Medina, a cenografia.
Um texto clássico e, por isso, passível de interpretações literalmente estereotipadas. É o que move Bacci a assumir a "herança" desse romance seminal.
"Alonso, o bom, aquele que se torna d. Quixote, descobre que tem uma herança que carrega nas costas como se fosse o seu pai. É com ela que sai de casa e se aventura pela mundo, mas sem jamais deixar de ser ele, Alonso", diz Bacci, 55. "Quantas vezes não somos traídos por esse pai que trazemos nas costas?", lança a analogia.
A Pontedera existe há 30 anos. A parceria ítalo-brasileira, em suma, está voltada para a produção artística, formação, residência e encontros no âmbito do teatro não-comercial. É intenção levar peças ou cursos a bairros distantes e trabalhar com crianças e idosos. "Não é um projeto que acaba no espetáculo", diz Carvalho, 51.
No início do mês, num dia de atividades na sede da Funarte, no bairro paulistano de Santa Cecília, em parte acompanhado pela Folha, os atores realizaram movimentos de tai chi chuan, capoeira e caboclinho (dança nordestina), passando depois aos primeiros esboços de cenas de "d. Quixote".
Há atores de diversos Estados do Brasil. "É um trabalho no qual a gente sente nossas pernas", diz o pernambucano César Negro, 27. Não se concebe uma "colonização" dos italianos. A Clat quer, antes, trocar. "Ter um espaço que pense o teatro sobretudo sob o ponto de vista do ator é uma oportunidade rara", diz a baiana Evani Tavares, 35.
"Na produção, não estamos isolados, pensamos conforme a criação artística", diz a carioca Daniela Fraga Lima. Com os outros dois produtores, ela embarca em setembro para a Itália, onde vão completar a formação.
A Clat é uma realização de Secretaria Municipal da Cultura de SP, Regione Toscana, Fondazione Pontedera Teatro, Istituto Italiano di Cultura de SP e Funarte, com colaboração do Sesc-SP. A primeira etapa consumiu cerca de R$ 220 mil. (VALMIR SANTOS)


Texto Anterior: Por meio de uma família, peça implode "misérias social e moral"
Próximo Texto: Panorâmica - Erudito: Morre o diretor de orquestra Carlos Kleiber
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.