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CLUBE
Casa noturna da Moóca, referência em música eletrônica na zona leste, fecha as portas depois de 16 anos de atividade
Overnight encerra suas noites de festa
ANDRÉ BARCINSKI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A festa de encerramento da casa
noturna Overnight, realizada no
último sábado, não foi muito diferente de centenas de outras festas
promovidas pelo famoso clube da
Moóca nos últimos 16 anos: quente, barulhenta e animada.
Apesar da vibração de seus freqüentadores, que não pararam de
dançar e gritar por um minuto sequer, havia no ar um evidente clima de tristeza. Acima da cabine
do DJ, uma faixa, escrita à mão,
expressava o sentimento de todos: "Aqui é a nossa casa, a música não pode parar".
"Estou muito triste, como dono
e como freqüentador da casa", dizia um dos sócios da Overnight,
Carmo Crunfli, 44 ("na noite desde os 12"). "A Over sempre foi a
minha menina dos olhos, e só
quem trabalha aqui sabe o esforço
que fizemos para mantê-la aberta,
apesar dos prejuízos financeiros."
Inaugurada em 1988, a Overnight ajudou a popularizar a música eletrônica em São Paulo. Todos os grandes DJs brasileiros
passaram por lá: Marky, Mau
Mau, Patife, Renato Lopes, além
de astros estrangeiros como Sasha e Bad Company. Mas o DJ mais
identificado com a Overnight é
Andy, 28, residente da casa desde
1992 e um verdadeiro ídolo local.
Na noite de sábado, Andy mal
conseguia andar pela casa. Ele foi
agarrado, abraçado e beijado; jovens pediam autógrafos e fotos;
outros simplesmente o interpelavam para agradecer pelas boas
lembranças.
O público da Overnight, consciente de que aquela seria uma
noite especial, fez o que não fazia
há tempos -lotou a casa. Mais de
1.600 pessoas abarrotaram o local,
de parede a parede. "Antigamente, isso aqui era lotado assim todo
fim de semana", lembra Andy.
O DJ culpa o apartheid social de
São Paulo pela derrocada da casa.
"As pessoas parecem que têm
medo de ir à zona leste. O "moderno", hoje, é ir ao Itaim ou à Vila
Olímpia. É uma pena, porque a
música eletrônica está muito carente de lugares na cidade. Com
exceção de Lov.e, D-Edge, A Lôca
e Manga Rosa, não existem mais
clubes dedicados à música eletrônica. Hoje só tem clubes de playboy, que se importam com tudo,
menos com a música."
A programação da noite incluiu
três DJs que fizeram história na
Overnight: Grace Kelly Dum, Dabolina, e o próprio Andy. Os três
se revezaram tocando músicas
que marcaram os 16 anos da casa,
de Prodigy a Underworld, de Inner City a Altern 8.
Andy fez uma seleção das músicas que marcaram as várias fases
da Overnight, tocando pop (Prince, Eurythmics), rock (Siouxsie
and the Banshees, Tom Tom
Club), além de clássicos de New
Order, Soft Cell e outros. Daí pulou para a house music, o jungle e
o hardcore, chegando, enfim, ao
drum'n'bass, estilo que o consagrou como DJ.
E como ficam os órfãos da
Overnight? "Eu vou atrás do
Andy", diz Antonio Marcos, 31,
freqüentador da casa desde 1991.
"Aonde ele for, eu vou atrás."
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