São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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BIA ABRAMO

A alegria de ver bichos


Rasmussen vem fixando uma outra modalidade de programa de natureza

A VIDA selvagem presta-se, na televisão, a dois tipos de abordagem. Um é o documentário da natureza nos moldes anglo-americanos, com imagens espetaculares e uma certa precisão, se não científica, pelo menos informativa sobre aquilo que se está vendo. Nessa modalidade "Planet Earth", as séries da BBC dirigidas por David Attenborough são imbatíveis, pela raridade e beleza das filmagens, bem como pela narrativa sóbria, não-humanizadora e que é capaz de despertar a curiosidade científica.
A outra é a do entretenimento, seja pelo lado turístico, como a que vem sendo praticada pelo "Globo Repórter", ou pelo lado aventureiro, que aproxima a vida dos animais ao que há de "radical" dos esportes assim qualificados, como muitas das que estão em exibição no Discovery. Um brasileiro de nome estrangeiro, Richard Rasmussen, vem, em seu quadro "Selvagem ao Extremo", exibido no "Domingo Espetacular" da Record, fixando uma outra modalidade de programa de natureza. Para começar, ele mesmo é um naturalista, o que equivale a dizer que sua curiosidade por bichos, plantas e o meio ambiente é quase inesgotável.
Ele não se interessa apenas pelo bicho maior, ou mais raro, ou mais feroz, ou seja, por aquele que sai melhor na foto.
Rasmussen pode estar no meio de uma matéria sobre jacarés do Pantanal e parar para observar uma aranha que outros olhos desprezariam.
Sua intimidade com os animais é física -gosta de pegar, de apalpar, de cheirar, de botar no colo. Seu entusiasmo não apenas torna o programa vibrante, mas é daqueles que são capazes de contaminar e despertar o mesmo desejo de conhecer no espectador.
Há em "Selvagem ao Extremo" uma preocupação de não apenas mostrar o espetacular, mas como que dissecar por fora, de mostrar tudo aquilo que faz daquele bicho uma espécie de milagre da natureza.
Além disso, Rasmussen é dono de uma comunicabilidade fácil e verdadeiramente espontânea, o que faz dele um ser televisivo por excelência. Com formação em biologia, mas sem ser um especialista, ele consegue conversar com os biólogos, zoólogos e outros profissionais da área com propriedade, e, ao mesmo tempo, explicar a informação especializada para o espectador.
O que atrapalha "Selvagem ao Extremo", além da quantidade excessiva de reprises, é que o discurso resvala, vez por outra, em um beco quase sem saída em que se encontra toda a contemplação da natureza: a sensação de que aquilo é tão precioso e único que a vida humana soa como uma ofensa.

biabramo.tv@uol.com.br


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