São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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Televisão/Crítica

Filme é paralelo para nossa precariedade

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

De vez em quando algo acontece para nos lembrar o precário do mundo. Há dias, todos estávamos felizes, em São Paulo, prontos para a rotina diária de ligar o computador. Mas os computadores conectados ao Speedy não respondiam.
Não importa o motivo por que isso aconteceu, na hora me fez lembrar de "Confidências à Meia-Noite" (TCM, 18h05; classificação indicativa não informada), no qual a decoradora Doris Day e o músico Rock Hudson dividem uma linha telefônica. Ela é mulher muito séria. Ele é mulherengo e vive falando com as namoradas pelo telefone, para desespero dela.
O rapaz vai se aproveitar dessa situação e provocar situações que só a precariedade do serviço telefônico poderia propiciar, fazendo-se passar por um caipira sulista cujos modos deixarão a garota encantada.
O filme de Michael Gordon ainda hoje se deixa ver, talvez porque nos lembra das possibilidades que a natureza precária das coisas (por mais que se sofistiquem) nos abrem. Conheço gente que se conheceu e se casou graças às linhas cruzadas do século passado.
Hoje o mundo se move com a internet e não há dúvida de que uma pane dessa natureza pode representar uma catástrofe. No entanto, a supressão do estado "on-line", ao nos atirar subitamente no túnel do tempo, no passado, não terá aberto a possibilidade de olhar esse mundo não virtual que hoje parece ter se tornado quase uma entidade fantástica?


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