Exibido no Festival de Paulínia, filme foi muito aplaudido; diretores trafegam entre o humor e o humanismo

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A PAULÍNIA

"5 x Favela - Agora por Nós Mesmos" é um filme do sistema. Tem a Globo Filmes e a Sony Pictures por trás e recebeu apoio financeiro de Eike Batista. Mas, ironicamente, o longa que transforma a cultura das favelas cariocas em produto a ser consumido pela classe média parece inverter a lógica da cooptação.
Não foi o sistema que enquadrou os jovens realizadores do filme coordenado por Cacá Diegues e Renata Almeida. Foram os grupos culturais como Nós do Morro e Afro Reggae que provaram ter muito a oferecer.
Os cinco episódios mostram que as câmeras, ao subir o morro, encontraram talentos que o cinema brasileiro tinha deixado à margem. O filme estabelece um diálogo com o que de mais original o cinema brasileiro já produziu. Mas não esmiúça conceitos nem tem tiques politicamente corretos.
Sem medo do humor ingênuo, que faz a gente rir de um menino xingando um velho, "Arroz com Feijão" respira o espírito popular brasileiro.
"Acende a Luz" diverte-se com o que, para a classe média, soaria como um problema infernal: a falta de luz na noite de Natal.
É por falaram de dentro, e não de fora, que os diretores de "Fonte de Renda" sentem-se à vontade para fazer piada com o traficante que não suporta receber eletrodomésticos como pagamento.
Não fosse o afeto que temos pelo lugar onde nascemos, os autores de "Deixa Voar" não teriam enxergado a beleza da ponte que separa duas favelas rivais e que se revela tão fotogênica.
Em "5 x Favela", até quando as quadrilhas guerreiam, como em "Concerto para Violino", o que fica, a despeito da violência, é o olhar do policial que, como quase todos os envolvidos nesse projeto, foi um menino do morro.