São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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Galãs do horário nobre


Vida Alves, que deu o primeiro beijo na TV, em 51, prepara candidatos para o horário eleitoral, que estréia hoje

Globo é a emissora que terá mais alterações em sua programação; "Os Normais" e "Brava Gente" saem do ar



DA REPORTAGEM LOCAL

"O Serra tem que se achar bonito, tem que gostar dele. E dizer: "Eu sou o Serra. Quer um pedaço?"." Essa é uma das orientações de Thais Alves -dona de uma escola de comunicação para executivos e políticos-, que teve uma reunião na semana passada com Nelson Biondi, marqueteiro do presidenciável José Serra (PSDB).
Thais, 48, é coordenadora do curso de sua mãe, a atriz Vida Alves, 74, famosa por ter dado o primeiro beijo romântico na televisão, em 1951, na novela "Sua Vida me Pertence", da extinta TV Tupi.
Afastada das telas, ela hoje administra a Vida Alves Comunicações (www.vidaalves.com.br), cujo lema é "Comunicar-se bem é ter nas mãos o domínio do próprio eu". Para Thais, nenhum dos presidenciáveis é nota dez na arte da comunicação. Nem Lula, nem Ciro, que conta com as dicas da namorada, a atriz Patrícia Pillar, nem Garotinho, radialista e ex-aluno de teatro.
Cursos para executivos é o maior filão de Vida, mas a procura de políticos tem crescido, principalmente depois que sua escola fez anúncio no intervalo do primeiro debate dos presidenciáveis, há duas semanas, na Band.
O encontro entre Thais e Biondi foi marcado pela mulher do marqueteiro, a publicitária Silvana Tinelli, que recentemente fez o curso com Thais para tentar melhorar seu desempenho ao falar em público. Satisfeita com o resultado, ela achou que as dicas poderiam ajudar Serra na campanha.
Biondi ouviu os conselhos de Thais por quase uma hora, na quinta-feira passada, quando os primeiros programas eleitorais -que estréiam hoje no rádio e na TV- estavam sendo gravados. "Ela deu suas impressões. Disse muita coisa com propriedade", afirmou o marqueteiro de José Serra, que não vê, "a essa altura, oportunidade" para que o candidato tome aulas na escola.
A identidade dos alunos políticos da escola não costuma ser revelada, "por questões éticas". Thais diz apenas que algo em torno de dez candidatos a deputado colocarão suas técnicas em prática a partir de hoje, quando estréia o horário eleitoral gratuito.
As "dicas" não saem barato para os políticos. Cada hora da orientação de Thais, Vida e dos outros noves professores do curso de comunicação custa de R$ 450 a R$ 500. Em época de campanha, os candidatos, "sem muito tempo na agenda", costumam frequentar a escola por dois dias, num total de 16 horas de curso. Ou seja, gastam cerca de R$ 8.000.
O objetivo é falar bem em público, melhorar o discurso e ter um bom desempenho em entrevistas.
De que jeito? "O segredo é trabalhar com a autoconfiança. Comunicar é a arte de partilhar", diz Thais. E também de nem sempre dizer a verdade. "Uma vez perguntei a uma candidata a deputada, mulher de um empreiteiro, que veio fazer o curso. "Você entregaria uma obra pública à empresa do seu marido?". Ela respondeu: "Claro. É melhor entregar para ele do que para outro". Não precisa dizer tudo, entende?"
O ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, candidato a deputado federal pelo PSL, é um deles. Ele passou duas semanas sob orientação da família Alves no início de 96, quando se preparava para a campanha à prefeitura e cita Vida e Thais em seu livro "Política e Preconceito". Ele frequentou o curso por duas semanas. "Aprendi a controlar minhas emoções diante de ataques. Em toda aquela situação, nunca conseguiram me tirar do sério", disse Celso Pitta.
Ainda desconhecido, o então afilhado político de Paulo Maluf chegou à escola de Vida Alves para aprender a falar em público e a dar entrevistas. O primeiro passo foi fazer o que Thais Alves, coordenadora do curso, chama de "check-up". "Gravamos uma fita em que o candidato fala sobre sua vida pessoal, profissional, seus planos. Depois, assistimos junto com ele para detectar os pontos fracos e fortes", diz a professora.
O político passa, então, a tomar aulas de respiração, expressão corporal. Treina até discurso com uma platéia formada por profissionais da escola. E faz curso de voz com a Tiê, 22, filha de Thais, que tenta a carreira de cantora.
"Na semana passada, gravei o programa eleitoral e usei uma técnica que aprendi com elas. Tinha 32 segundos para falar. Antes de começar, enchi o peito de ar como se fosse mergulhar", contou.
"Fazia exercícios de respiração. E treinava dizer "um tigre, dois tigres, três tigres" e palavras difíceis como "constitucionalicimamente'", disse Pitta, ainda se complicando com os exercícios.
Outro político que esteve nas salas de aula do sobrado do Sumaré, em SP, onde o curso é ministrado, foi o senador e ex-governador de Santa Catarina Vilson Kleinubing, morto em outubro de 1998.
"Teve um dia que o Kleinubing chegou tão estressado, que, antes de começarmos qualquer coisa, pedi para ele se deitar no chão e fiz uma massagem de relaxamento."


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