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Autor resgata história de Osasco
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio a tantas reivindicações de tão diferentes vozes, o escritor e músico Erton Moraes reivindica-se à margem da margem.
Não exatamente a si mesmo, mas
à cidade que desde sempre habitou e cuja vida urbana viu entrelaçar-se indivisivelmente com a
sua, perdendo-se junto a ela. É a
história de Osasco, que ele diz ter
visto diluir-se no esquecimento e
no caos, como todos os episódios
e anedotas que o próprio Moraes
deixou de contar.
"Esta cidade é um arquivo queimado. Você procura a história de
Osasco e não encontra. É uma cidade muda", diz Moraes, explicando que, mesmo na marginalidade, há comunidades com mais
voz e mais representativas, como
o Capão Redondo, de Ferréz.
Mas Moraes prefere não se restringir às palavras. Além de escritor e músico, criou seu próprio
movimento urbano, nascido em
sua cidade, mas sem se limitar a
ela: o "Trokaoslixo". Um movimento que busca resgatar do lixo
e do silêncio as mais variadas culturas populares e reapresentá-las
ao público.
Para a escrita, retomando o debate sobre a literatura marginal,
Moraes mantém o princípio de
seu movimento. "A gente tem que
recuperar o que já foi feito, mas
também fazer a nossa arte, do
nosso jeito", diz. Quanto ao público-leitor, mantém tom de conciliação: "A gente escreve para o
nosso povo, sim, mas também para deixar de ser visto como bicho
exótico e poder conversar diretamente com os intelectuais".
Do texto de Moraes emerge a
preocupação com o lixo e com a
acessibilidade. Em "A Peregrinação da Varejeira", conto que encerra o livro, cria uma fábula urbana, com linguagem simples, em
que uma mosca atravessa casas e
lixões buscando entender a ação
de estranhos seres, os homens. "A
minha intenção é essa, fazer uma
poesia quase infantil, com uma filosofia forte, para o povo entender", explica o autor.
(JF)
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