São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2005

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Autor resgata história de Osasco

DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio a tantas reivindicações de tão diferentes vozes, o escritor e músico Erton Moraes reivindica-se à margem da margem. Não exatamente a si mesmo, mas à cidade que desde sempre habitou e cuja vida urbana viu entrelaçar-se indivisivelmente com a sua, perdendo-se junto a ela. É a história de Osasco, que ele diz ter visto diluir-se no esquecimento e no caos, como todos os episódios e anedotas que o próprio Moraes deixou de contar.
"Esta cidade é um arquivo queimado. Você procura a história de Osasco e não encontra. É uma cidade muda", diz Moraes, explicando que, mesmo na marginalidade, há comunidades com mais voz e mais representativas, como o Capão Redondo, de Ferréz.
Mas Moraes prefere não se restringir às palavras. Além de escritor e músico, criou seu próprio movimento urbano, nascido em sua cidade, mas sem se limitar a ela: o "Trokaoslixo". Um movimento que busca resgatar do lixo e do silêncio as mais variadas culturas populares e reapresentá-las ao público.
Para a escrita, retomando o debate sobre a literatura marginal, Moraes mantém o princípio de seu movimento. "A gente tem que recuperar o que já foi feito, mas também fazer a nossa arte, do nosso jeito", diz. Quanto ao público-leitor, mantém tom de conciliação: "A gente escreve para o nosso povo, sim, mas também para deixar de ser visto como bicho exótico e poder conversar diretamente com os intelectuais".
Do texto de Moraes emerge a preocupação com o lixo e com a acessibilidade. Em "A Peregrinação da Varejeira", conto que encerra o livro, cria uma fábula urbana, com linguagem simples, em que uma mosca atravessa casas e lixões buscando entender a ação de estranhos seres, os homens. "A minha intenção é essa, fazer uma poesia quase infantil, com uma filosofia forte, para o povo entender", explica o autor. (JF)


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