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Ex-preso usa as próprias cicatrizes
DA REPORTAGEM LOCAL
Luiz Alberto Mendes traz no
corpo as máculas da marginalidade, e não se trata agora das margens da cultura dominante. Nas
cicatrizes de tiros que polvilham
sua pele, revela-se indelevelmente
o fato de ele ter sido "marginal"
no sentido menos lisonjeiro do
termo. Em 1971, o paulistano foi
preso por assalto e latrocínio, e
ninguém se atreva a negar que tal
acontecimento mudou sua vida
por completo.
Mendes passou mais de 30 anos
preso, transferido de cadeia a cadeia, conhecendo seus mais recônditos porões, encontrando refúgio de tempos em tempos nos
livros a que tinha acesso. Dividia-se entre a dedicação à literatura,
que aprendeu a apreciar lá mesmo, e a batalha a duras penas por
sua existência, tendo de comprar
a vida dia após dia, às vezes à custa da de outros. É sobre isso que
trata o conto que publica agora na
coletânea "Literatura Marginal": a
história de um homem condenado a seis meses de solitária por ter
se defendido com veemência demais dos ataques de outro preso,
acabando por matá-lo.
Sim, Mendes foi esse homem.
Em sua literatura, forjada a quase
tão duras penas quanto a própria
vida, ele opta por contar episódios que viveu ou que viveram
outros que o cercaram durante os
30 duros anos.
Autobiográfico, sim, um traço
comum a outros autores do livro.
Mas não, Mendes faz questão de
dispensar o rótulo de literatura
marginal. "Os caras podem até
me enquadrar, mas eu faço literatura. Uma literatura que é para todo mundo, não só para a periferia", diz recorrentemente.
Para além das características de
sua escrita, se depender do acesso
ao mercado e aos meios editoriais
centrais, ele tem razão. Mendes é
o autor do bem vendido "Memórias de um Sobrevivente", escrito
dentro da prisão e publicado pela
Companhia das Letras, a mesma
editora que deve publicar "Às Cegas", até o final do ano.
(JF)
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