São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2005

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Ex-preso usa as próprias cicatrizes

DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Alberto Mendes traz no corpo as máculas da marginalidade, e não se trata agora das margens da cultura dominante. Nas cicatrizes de tiros que polvilham sua pele, revela-se indelevelmente o fato de ele ter sido "marginal" no sentido menos lisonjeiro do termo. Em 1971, o paulistano foi preso por assalto e latrocínio, e ninguém se atreva a negar que tal acontecimento mudou sua vida por completo.
Mendes passou mais de 30 anos preso, transferido de cadeia a cadeia, conhecendo seus mais recônditos porões, encontrando refúgio de tempos em tempos nos livros a que tinha acesso. Dividia-se entre a dedicação à literatura, que aprendeu a apreciar lá mesmo, e a batalha a duras penas por sua existência, tendo de comprar a vida dia após dia, às vezes à custa da de outros. É sobre isso que trata o conto que publica agora na coletânea "Literatura Marginal": a história de um homem condenado a seis meses de solitária por ter se defendido com veemência demais dos ataques de outro preso, acabando por matá-lo.
Sim, Mendes foi esse homem. Em sua literatura, forjada a quase tão duras penas quanto a própria vida, ele opta por contar episódios que viveu ou que viveram outros que o cercaram durante os 30 duros anos.
Autobiográfico, sim, um traço comum a outros autores do livro. Mas não, Mendes faz questão de dispensar o rótulo de literatura marginal. "Os caras podem até me enquadrar, mas eu faço literatura. Uma literatura que é para todo mundo, não só para a periferia", diz recorrentemente.
Para além das características de sua escrita, se depender do acesso ao mercado e aos meios editoriais centrais, ele tem razão. Mendes é o autor do bem vendido "Memórias de um Sobrevivente", escrito dentro da prisão e publicado pela Companhia das Letras, a mesma editora que deve publicar "Às Cegas", até o final do ano. (JF)


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