São Paulo, segunda-feira, 20 de agosto de 2007

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Gramado termina com invasão

Manifestante sobe ao palco para protestar em noite que premiou filmes de Carlos Prates e Paulo Caldas

"Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais", de Prates, vence como melhor filme; Caldas leva prêmio de direção por "Deserto Feliz"

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO

Um protesto pacífico abortado pela segurança tumultuou a cerimônia de premiação do 35º Festival de Cinema de Gramado, na noite de sábado.
Quando ia ser anunciado o melhor filme brasileiro segundo o júri popular ("Deserto Feliz"), um homem pulou do mezzanino do Palácio dos Festivais e invadiu o palco.
Com o rosto pintado de verde e vestido com as bandeiras do Rio Grande do Sul e do Brasil sobre uma camiseta do Fórum Social Mundial, ele foi até a bancada com microfones onde estavam os atores José Wilker e Júlia Lemmertz, mestres de cerimônia da festa, e disse: "Com licença, eu quero falar!".
Dois seguranças o afastaram do microfone, mas não conseguiram contê-lo. Mais dois homens juntaram-se aos primeiros seguranças e o imobilizaram pelas pernas e braços, carregando-o para fora do cinema.
Foi quando a platéia ficou do lado do agitador, gritando "Fala! Fala!" e vaiando os seguranças. E Wilker ficou do lado da platéia: "Acho sempre um momento emocionante quando o povo quer falar!". Do mezzanino, outro homem gritou: "Mas ele não falou! E se fosse o [cineasta francês François] Truffaut [1932-84]?".
Mas não se tratava de um cineasta, e sim do escritor Elias Vidal Sobrinho, fluminense de 31 anos radicado "há muito tempo em Gramado", conforme ele se identificou para a Folha, na porta do Palácio dos Festivais, onde foi deixado pelos seguranças, de quem disse não ter reclamação.
A reclamação que Vidal Sobrinho queria fazer no palco é a de que se sente usurpado no projeto da calçada da fama que volteia o Palácio dos Festivais.
O escritor diz que fez abaixo-assinado para que se construísse em Gramado a calçada em que as mãos de artistas e suas assinaturas ficam gravadas no cimento. Mas acha que, além de não reconhecer ser ele o autor da idéia, os realizadores desvirtuaram seu projeto, "incluindo políticos e empresários no meio dos artistas".
O protesto abafado de Vidal Sobrinho agitou a platéia e empalideceu o anúncio do prêmio de melhor filme: "Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais", de Carlos Alberto Prates que, devido a problemas de saúde, não compareceu.
O longa vencedor é um documentário sobre os filmes produzidos em Minas Gerais no período da ditadura militar, com imagens justapostas de diversos títulos, alinhavadas pela memória do personagem fictício Castelar Prates. Além do prêmio do júri popular, "Deserto Feliz" foi eleito melhor filme também pela crítica e ganhou os Kikitos de direção (Paulo Caldas) e fotografia (Paulo Jacinto dos Reis).
"Olho de Boi", de Hermano Penna, ficou com os prêmios de melhor ator (Gustavo Machado) e roteiro (Marcos Cesana). Ingra Liberato foi eleita a melhor atriz, por "Valsa para Bruno Stein", de Paulo Nascimento. O Prêmio Especial do Júri foi para o documentário "Condor", de Roberto Mader, que recebeu também o troféu de "qualidade artística", para a música de Victor Biglione.
O único concorrente brasileiro que saiu sem prêmios foi "Otávio e as Letras", de Marcelo Masagão. Na competição estrangeira, o argentino "Nacido y Criado", de Pablo Trapero, acumulou os Kikitos de melhor filme, direção e fotografia.
"El Baño del Papa", de César Charlone e Enrique Fernández, foi o eleito pelos júris popular e da crítica, além de vencer nas categorias roteiro (Charlone e Fernández), ator (Cesar Troncoso) e atriz (Virginia Méndez). O diretor mexicano Paul Leduc ("Cobrador") teve o Prêmio Especial do Júri.


A jornalista SILVANA ARANTES viajou a convite da organização do Festival de Gramado

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