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Gramado termina com invasão
Manifestante sobe ao palco para protestar em noite que premiou filmes de Carlos Prates e Paulo Caldas
"Castelar e Nelson Dantas
no País dos Generais", de
Prates, vence como melhor
filme; Caldas leva prêmio de
direção por "Deserto Feliz"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO
Um protesto pacífico abortado pela segurança tumultuou a
cerimônia de premiação do 35º
Festival de Cinema de Gramado, na noite de sábado.
Quando ia ser anunciado o
melhor filme brasileiro segundo o júri popular ("Deserto Feliz"), um homem pulou do mezzanino do Palácio dos Festivais
e invadiu o palco.
Com o rosto pintado de verde
e vestido com as bandeiras do
Rio Grande do Sul e do Brasil
sobre uma camiseta do Fórum
Social Mundial, ele foi até a
bancada com microfones onde
estavam os atores José Wilker e
Júlia Lemmertz, mestres de cerimônia da festa, e disse: "Com
licença, eu quero falar!".
Dois seguranças o afastaram
do microfone, mas não conseguiram contê-lo. Mais dois homens juntaram-se aos primeiros seguranças e o imobilizaram pelas pernas e braços, carregando-o para fora do cinema.
Foi quando a platéia ficou do
lado do agitador, gritando "Fala! Fala!" e vaiando os seguranças. E Wilker ficou do lado da
platéia: "Acho sempre um momento emocionante quando o
povo quer falar!". Do mezzanino, outro homem gritou: "Mas
ele não falou! E se fosse o [cineasta francês François] Truffaut [1932-84]?".
Mas não se tratava de um cineasta, e sim do escritor Elias
Vidal Sobrinho, fluminense de
31 anos radicado "há muito
tempo em Gramado", conforme ele se identificou para a Folha, na porta do Palácio dos
Festivais, onde foi deixado pelos seguranças, de quem disse
não ter reclamação.
A reclamação que Vidal Sobrinho queria fazer no palco é a
de que se sente usurpado no
projeto da calçada da fama que
volteia o Palácio dos Festivais.
O escritor diz que fez abaixo-assinado para que se construísse em Gramado a calçada em
que as mãos de artistas e suas
assinaturas ficam gravadas no
cimento. Mas acha que, além de
não reconhecer ser ele o autor
da idéia, os realizadores desvirtuaram seu projeto, "incluindo
políticos e empresários no
meio dos artistas".
O protesto abafado de Vidal
Sobrinho agitou a platéia e empalideceu o anúncio do prêmio
de melhor filme: "Castelar e
Nelson Dantas no País dos Generais", de Carlos Alberto Prates que, devido a problemas de
saúde, não compareceu.
O longa vencedor é um documentário sobre os filmes produzidos em Minas Gerais no
período da ditadura militar,
com imagens justapostas de diversos títulos, alinhavadas pela
memória do personagem fictício Castelar Prates.
Além do prêmio do júri popular, "Deserto Feliz" foi eleito
melhor filme também pela crítica e ganhou os Kikitos de direção (Paulo Caldas) e fotografia (Paulo Jacinto dos Reis).
"Olho de Boi", de Hermano
Penna, ficou com os prêmios de
melhor ator (Gustavo Machado) e roteiro (Marcos Cesana).
Ingra Liberato foi eleita a
melhor atriz, por "Valsa para
Bruno Stein", de Paulo Nascimento. O Prêmio Especial do
Júri foi para o documentário
"Condor", de Roberto Mader,
que recebeu também o troféu
de "qualidade artística", para a
música de Victor Biglione.
O único concorrente brasileiro que saiu sem prêmios foi
"Otávio e as Letras", de Marcelo Masagão.
Na competição estrangeira, o
argentino "Nacido y Criado",
de Pablo Trapero, acumulou os
Kikitos de melhor filme, direção e fotografia.
"El Baño del Papa", de César
Charlone e Enrique Fernández, foi o eleito pelos júris popular e da crítica, além de vencer nas categorias roteiro (Charlone e Fernández), ator
(Cesar Troncoso) e atriz (Virginia Méndez). O diretor mexicano Paul Leduc ("Cobrador") teve o Prêmio Especial do Júri.
A jornalista SILVANA ARANTES viajou a convite da organização do Festival de Gramado
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