São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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Wim Wenders diz que Glauber lhe revelou o Brasil

Em palestra em Porto Alegre, diretor alemão defende cinema com "sentimento forte de pertencimento local"

Além de Glauber Rocha, o cineasta cita entre suas principais influências o japonês Yasujiro Ozu e o norte-americano John Ford


DO ENVIADO A PORTO ALEGRE

O cineasta alemão Wim Wenders fez anteontem, em Porto Alegre, a defesa de um cinema "com forte sentimento de pertencimento local", saído de culturas específicas, distinto de uma produção hegemônica que narra histórias "que poderiam acontecer em qualquer lugar", filmados em um mundo sem identidade, "diante de uma tela azul".
"Esse tipo de produção internacional anônima me entedia à morte", disse Wenders, durante sua palestra no ciclo Fronteiras do Pensamento, para cerca de 1.300 pessoas que lotavam um teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na capital gaúcha.
Os cineastas que mais o influenciaram, afirmou, tinham esse forte "sentimento local", entre eles o japonês Yasujiro Ozu (1903-1963), o brasileiro Glauber Rocha (1939-1981) e mesmo o norte-americano John Ford (1894-1973).

País metafórico
Sobre o brasileiro, Wenders afirmou que foi só com Glauber que o Brasil deixou de ser, para ele, "um país metafórico". "Antes, não era um país, era uma invenção, um estado de espírito. Um louco estado de espírito. Bem, não estava tão enganado", falou, para risos da platéia.
Em contraste, Wenders disse que ele próprio não chegou a ter "pais simbólicos" na Alemanha em que nasceu, logo após a Segunda Guerra.
"Era um país devastado e sem esperanças. Os alemães acumulavam vergonha sobre os ombros. Desde quando posso lembrar, queria deixar o país. Assim, tornei-me um viajante. É minha vocação e minha profissão", afirmou na palestra.
Foi só depois de "viajar bastante", disse, que se reencontrou com a Alemanha. E, mesmo filmando fora de seu país, tentou "em cada lugar contar a história que não poderia acontecer em nenhuma outra parte". De volta a Berlim, filmou "Asas do Desejo" (1987), em que, segundo ele, a própria cidade ditou a forma do filme.
"Não conseguia encontrar os personagens que me mostrassem a cidade em toda a sua complexidade. Quando parei de pensar na história e olhei em volta, vi essas imagens de anjos ao redor. Aceitei a dica da cidade e escrevi no meu caderno de anotações: "Anjos da guarda?'", descreveu.
(RAFAEL CARIELLO)


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