São Paulo, quinta-feira, 20 de agosto de 2009 |
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You Quê?
Um dos dez mais acessados na China, site censura temas sensíveis ao governo e paga para usar vídeos da TV estatal
RAUL JUSTE LORES DE PEQUIM Quer ver todos os episódios de "Lost" de graça e sem interrupções? Ou de "Prison Break" e "Heroes"? O Youku (www.youku.com) faz o serviço. O site chinês, cópia do YouTube, virou o pesadelo de qualquer TV paga ao colocar na rede filmes e seriados na íntegra. Até séries que não fazem sucesso na China, como "True Blood" e "Mad Men", estão lá. Essa videolocadora grátis do século 21 só é possível graças à inexistência de leis de propriedade intelectual na China (as poucas que existem também não são lá muito fiscalizadas pelo governo). Os usuários põem no ar os episódios -tanto gravados da própria TV americana como copiados de DVDs piratas encontrados em qualquer lojinha na China- enquanto grupos de jovens chineses se encarregam de legendá-los. Para quem domina o inglês, é um programão. Apesar da poluição visual típica dos sites chineses, é só digitar o nome da série no espaço de busca, em inglês mesmo, sem necessidade de usar ideogramas. Usuários nos EUA, Europa e até no Brasil já descobriram o conteúdo livre. Criado em 2006, o Youku se tornou um dos dez sites mais acessados da China, seguindo o mesmo modelo do americano YouTube (a empresa nega a cópia do nome, alegando que os ideogramas chineses que compõe "Youku" significam "bom" e "legal"). Rapidamente, começou a fazer o que o original é impedido por lei. Autocensura A ascensão do Youku tem relação direta com o bloqueio do YouTube na China. O site americano foi proibido na China no ano passado, quando foram postados vídeos em que monges tibetanos são surrados pela polícia chinesa em Lhasa. O governo chinês bloqueava o YouTube sempre que vídeos com violência policial ou denúncias de desrespeito aos direitos humanos entravam no ar. No final do ano passado, bloqueou-o permanentemente. Já o Youku, como todos os grandes sites chineses, tem sua autocensura. Mais de cem pessoas se encarregam de checar e deletar vídeos que contenham temas sensíveis ao governo. Na gíria chinesa, o Youku é um site "harmonizado". O lema do Partido Comunista é criar uma "sociedade harmoniosa" e a censura à internet representa essa harmonia à força. Outro comportamento diferente do Youku é quanto ao conteúdo local. O site não utiliza a programação da TV estatal chinesa sem autorização. "Assinamos acordos com as TVs do governo e pagamos pelos direitos", explica o gerente de relações internacionais do Youku, Steven Lin. Pirataria envergonhada Quando a Folha pergunta sobre o sucesso dos seriados americanos colocados na íntegra no site, o gerente de relações internacionais diz que "só uma minoria assiste a eles". "Por que as empresas chinesas pagam por anúncios de dez segundos antes de cada episódio americano, o que não acontece com as novelas chinesas?", pergunto. O relações públicas perde a diplomacia. "Se for para escrever sobre Youku e pirataria, a entrevista está encerrada", responde, aos gritos. "Dou entrevistas à CNN e à Fox sobre internet livre. Se for para nos acusar de pirataria, não." No mesmo dia, 2,5 milhões de chineses assistiram, de graça, a episódios da terceira temporada de "Prison Break". Texto Anterior: Curtas invadem 11 salas da cidade Próximo Texto: Restrições chinesas são punidas Índice |
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