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Trilha do filme tem músicas de Fred Zero Quatro e Mestre Ambrósio
CD de "Baile Perfumado" é
lançado com inédita de Science
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
A trilha sonora do filme "Baile
Perfumado", que chega agora
ao mercado, serve-se do caldo
de cultura musical pernambucano que, nos anos 90, ganhou
apelido de "mangue beat".
O principal atrativo, entre vários temas interpretados pelos
"caranguejos com cérebro", é
a faixa "Angicos", peça inédita
de Chico Science, morto em acidente de carro neste ano.
Ainda do músico, comparecem "Salustiano Song" e
"Sangue de Bairro", já editadas
em disco. Juntas em "Baile Perfumado", as canções "Angicos" e "Sangue de Bairro" tornam-se curiosas para além do
talento que encerram, por conterem versos que, ouvidos agora, compõem sentidos inesperados, mas algo inevitáveis.
Diz em "Angicos": "Vou-me
embora/ Vou andando/ Não me
posso demorar/ Eu tô indo pra
Vênus/ Encontrar Maria/ Não
posso me atrasar". Impossível
ignorar um tolo teor profético.
"Sangue de Bairro", em sua
temática cangaceira, vai ainda
mais longe: "Quando degolaram minha cabeça passei mais
de dois minutos vendo meu corpo tremer/ e não sabia o que fazer, morrer, viver, morrer...".
Outros caranguejos emergem
ainda em "Baile Perfumado".
Fred Zero Quatro toca guitarras
e cavaquinho na faixa-título,
composta por ele e cantada por
Stela Campos, e no belo baile
distorcido da instrumental
"Tenente Lindalvo (Compromisso de Morte)", com músicos
de sua banda, Mundo Livre S/A.
O rabequeiro Siba e seu Mestre
Ambrósio tomam conta de parte
substancial do CD, com temas
incidentais como "Baile Catingoso", "Benjaab" e "Mamede", ainda atrelados à festa terrena da banda, mas enriquecidos de texturas modernas (especialmente em "Mamede").
Encerram o conteúdo do CD
trabalhos capitaneados pelo
guitarrista (e produtor da trilha)
Paulo Rafael e o guitarrista da
Nação Zumbi, Lúcio Maia, bem
como remixes corretos, mas
desnecessários, de Paulo Rafael
e de Siba para "Angicos".
Feitas as contas, a trilha do autodenominado "árido movie"
traz antes um naco a mais da
cultura musical pernambucana,
que nem sempre convive harmoniosamente com o que o filme mostra na tela.
Este, esperto ao cooptar a
energia do mangue, tem mais a
oferecer em termos de linguagem cinematográfica que ao cenário pop do mangue, a que tenta, inegavelmente, se associar.
Quanto ao cenário pop do
mangue, novidade muita aqui
não há, até pelo teor predominantemente incidental do trabalho. Quanto ao talento, parece
continuar intacto, ainda que
(quase) sem Chico Science.
Disco: Baile Perfumado
Lançamento: Natasha
Quanto: R$ 18, em média
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