São Paulo, quarta, 20 de agosto de 1997.



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Trilha do filme tem músicas de Fred Zero Quatro e Mestre Ambrósio
CD de "Baile Perfumado" é lançado com inédita de Science

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

A trilha sonora do filme "Baile Perfumado", que chega agora ao mercado, serve-se do caldo de cultura musical pernambucano que, nos anos 90, ganhou apelido de "mangue beat".
O principal atrativo, entre vários temas interpretados pelos "caranguejos com cérebro", é a faixa "Angicos", peça inédita de Chico Science, morto em acidente de carro neste ano.
Ainda do músico, comparecem "Salustiano Song" e "Sangue de Bairro", já editadas em disco. Juntas em "Baile Perfumado", as canções "Angicos" e "Sangue de Bairro" tornam-se curiosas para além do talento que encerram, por conterem versos que, ouvidos agora, compõem sentidos inesperados, mas algo inevitáveis.
Diz em "Angicos": "Vou-me embora/ Vou andando/ Não me posso demorar/ Eu tô indo pra Vênus/ Encontrar Maria/ Não posso me atrasar". Impossível ignorar um tolo teor profético.
"Sangue de Bairro", em sua temática cangaceira, vai ainda mais longe: "Quando degolaram minha cabeça passei mais de dois minutos vendo meu corpo tremer/ e não sabia o que fazer, morrer, viver, morrer...".
Outros caranguejos emergem ainda em "Baile Perfumado". Fred Zero Quatro toca guitarras e cavaquinho na faixa-título, composta por ele e cantada por Stela Campos, e no belo baile distorcido da instrumental "Tenente Lindalvo (Compromisso de Morte)", com músicos de sua banda, Mundo Livre S/A.
O rabequeiro Siba e seu Mestre Ambrósio tomam conta de parte substancial do CD, com temas incidentais como "Baile Catingoso", "Benjaab" e "Mamede", ainda atrelados à festa terrena da banda, mas enriquecidos de texturas modernas (especialmente em "Mamede").
Encerram o conteúdo do CD trabalhos capitaneados pelo guitarrista (e produtor da trilha) Paulo Rafael e o guitarrista da Nação Zumbi, Lúcio Maia, bem como remixes corretos, mas desnecessários, de Paulo Rafael e de Siba para "Angicos".
Feitas as contas, a trilha do autodenominado "árido movie" traz antes um naco a mais da cultura musical pernambucana, que nem sempre convive harmoniosamente com o que o filme mostra na tela.
Este, esperto ao cooptar a energia do mangue, tem mais a oferecer em termos de linguagem cinematográfica que ao cenário pop do mangue, a que tenta, inegavelmente, se associar.
Quanto ao cenário pop do mangue, novidade muita aqui não há, até pelo teor predominantemente incidental do trabalho. Quanto ao talento, parece continuar intacto, ainda que (quase) sem Chico Science.

Disco: Baile Perfumado Lançamento: Natasha Quanto: R$ 18, em média


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