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LITERATURA/LANÇAMENTO
Bibliófilo, dono de acervo de mais de 35 mil títulos, conta como iniciou sua valiosa coleção
Mindlin vasculha memória de sua biblioteca em livro
KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO
"A gente passa, os livros ficam."
A frase é de um dos mais reconhecidos bibliófilos brasileiros, José
Mindlin, que, do alto de sua 90ª
primavera, diz considerar-se o
mesmo "compulsivo patológico"
na arte de colecionar livros. Aos
treze anos, ele já costumava passear de bonde com o irmão para
percorrer os sebos de São Paulo.
Também contador de histórias,
Mindlin não poderia deixar de
reavivar e registrar algumas das
aventuras que o levaram a reunir
os mais de 35 mil títulos que conserva em sua casa-biblioteca, ou
vice-versa, no bairro do Brooklin,
em São Paulo.
Parte de suas peregrinações em
busca de exemplares raros e a história de como fundou a Biblioteca
de Guita e José Mindlin estão em
"Memórias Esparsas de uma Biblioteca", obra lançada hoje pela
Imprensa Oficial.
Nesse mar de livros, existiria um
preferido? "Uma característica da
bibliofilia é a poligamia. Não há
como dizer prefiro este ou aquele", diz. Com esforço, seleciona
uns poucos "pupilos", entre eles a
versão original de "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães
Rosa, a primeira edição de "Os
Lusíadas", de Camões, e outras
primeiras edições, como as de "O
Guarani", de José de Alencar, e "A
Moreninha", de Joaquim Manuel
de Macedo.
No mesmo evento em São Paulo
será lançada obra de Cristina Antunes, "Memórias de uma Guardadora de Livros", que trabalha
no espaço de Mindlin há 23 anos.
Os dois livros fazem parte da coleção Memória do Livro.
Em suas lembranças, Mindlin
relembra a passagem pelos sebos
da capital paulistana e também
pelos do Rio de Janeiro, conta histórias de negociação, com perdas
e ganhos para obter parte de seu
acervo. Aliás, cerca de 16 mil títulos nacionais da biblioteca de
Mindlin irão compor um novo
acervo da USP, em prédio especial
que já tem projeto de construção.
Para manter os livros em bom
estado de conservação, Mindlin
diz cuidar para que não haja muita luz no ambiente, exige limpeza
diária dos exemplares e mantém
os livros em estantes abertas, com
bastante ventilação. "Estante fechada é coisa do passado", diz.
"Ainda bem que a moça que faz a
limpeza não gosta de ler porque,
se gostasse, não faria o serviço
bem-feito", completa.
Mindlin conta que sua média de
leitura, antes de ser acometido de
um problema nos olhos, era de oito títulos por mês. O também dono da versão original do romance
"Vidas Secas", de Graciliano Ramos, diz que jamais conseguiria
avaliar sua biblioteca.
Engraçado e bem-humorado,
Mindlin contou à Folha até que
ponto pode chegar o empenho de
um bibliófilo por uma edição rara. "Eu passei 15 anos atrás de um
exemplar de "O Guarani". Soube
que estava com um grego, mandei
muitas cartas a ele, que nunca respondia. Estava em Paris quando
um livreiro me disse que estava
com esse grego. Depois de muitas
idas e vindas, o livro está comigo."
Cristina Antunes, uma das
maiores colaboradoras de Mindlin, conta em sua obra o processo de catalogação dos livros, a informatização e a transição do
acervo para a USP. A caixa com os
dois volumes custa R$ 38.
MEMÓRIAS ESPARSAS DE UMA
BIBLIOTECA. Lançamento da obra de
José Mindlin e de "Memórias de Uma
Guardadora de Livros", de Cristina
Antunes. Quando: hoje, às 19h. Onde:
Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel.
0/xx/11/3170-4033).
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