São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2004

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LITERATURA/LANÇAMENTO

Bibliófilo, dono de acervo de mais de 35 mil títulos, conta como iniciou sua valiosa coleção

Mindlin vasculha memória de sua biblioteca em livro

KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

"A gente passa, os livros ficam." A frase é de um dos mais reconhecidos bibliófilos brasileiros, José Mindlin, que, do alto de sua 90ª primavera, diz considerar-se o mesmo "compulsivo patológico" na arte de colecionar livros. Aos treze anos, ele já costumava passear de bonde com o irmão para percorrer os sebos de São Paulo.
Também contador de histórias, Mindlin não poderia deixar de reavivar e registrar algumas das aventuras que o levaram a reunir os mais de 35 mil títulos que conserva em sua casa-biblioteca, ou vice-versa, no bairro do Brooklin, em São Paulo.
Parte de suas peregrinações em busca de exemplares raros e a história de como fundou a Biblioteca de Guita e José Mindlin estão em "Memórias Esparsas de uma Biblioteca", obra lançada hoje pela Imprensa Oficial.
Nesse mar de livros, existiria um preferido? "Uma característica da bibliofilia é a poligamia. Não há como dizer prefiro este ou aquele", diz. Com esforço, seleciona uns poucos "pupilos", entre eles a versão original de "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, a primeira edição de "Os Lusíadas", de Camões, e outras primeiras edições, como as de "O Guarani", de José de Alencar, e "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo.
No mesmo evento em São Paulo será lançada obra de Cristina Antunes, "Memórias de uma Guardadora de Livros", que trabalha no espaço de Mindlin há 23 anos. Os dois livros fazem parte da coleção Memória do Livro.
Em suas lembranças, Mindlin relembra a passagem pelos sebos da capital paulistana e também pelos do Rio de Janeiro, conta histórias de negociação, com perdas e ganhos para obter parte de seu acervo. Aliás, cerca de 16 mil títulos nacionais da biblioteca de Mindlin irão compor um novo acervo da USP, em prédio especial que já tem projeto de construção.
Para manter os livros em bom estado de conservação, Mindlin diz cuidar para que não haja muita luz no ambiente, exige limpeza diária dos exemplares e mantém os livros em estantes abertas, com bastante ventilação. "Estante fechada é coisa do passado", diz. "Ainda bem que a moça que faz a limpeza não gosta de ler porque, se gostasse, não faria o serviço bem-feito", completa.
Mindlin conta que sua média de leitura, antes de ser acometido de um problema nos olhos, era de oito títulos por mês. O também dono da versão original do romance "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, diz que jamais conseguiria avaliar sua biblioteca.
Engraçado e bem-humorado, Mindlin contou à Folha até que ponto pode chegar o empenho de um bibliófilo por uma edição rara. "Eu passei 15 anos atrás de um exemplar de "O Guarani". Soube que estava com um grego, mandei muitas cartas a ele, que nunca respondia. Estava em Paris quando um livreiro me disse que estava com esse grego. Depois de muitas idas e vindas, o livro está comigo."
Cristina Antunes, uma das maiores colaboradoras de Mindlin, conta em sua obra o processo de catalogação dos livros, a informatização e a transição do acervo para a USP. A caixa com os dois volumes custa R$ 38.


MEMÓRIAS ESPARSAS DE UMA BIBLIOTECA. Lançamento da obra de José Mindlin e de "Memórias de Uma Guardadora de Livros", de Cristina Antunes. Quando: hoje, às 19h. Onde: Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 0/xx/11/3170-4033).


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