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Abujamra estréia peça como o "rei da incoerência"
"Começar a Terminar", feita a partir de temas recorrentes na obra de Beckett, tem apresentação confusa em Porto Alegre
Espetáculo, que chega a São Paulo no próximo dia 10, teve problemas técnicos e pareceu ainda inacabado no festival de teatro gaúcho
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
"Quero ser o rei da incoerência", dispara o ator Antonio
Abujamra, nos momentos iniciais de "Começar a Terminar",
vôo livre sobre o universo de
Samuel Beckett que estreou
anteontem, no Porto Alegre em
Cena. Pois o que se viu nos 45
minutos subseqüentes sugere
que o anseio tem boas chances
de se materializar.
O palco do teatro São Pedro
recebeu um espetáculo nitidamente inacabado, um "brainstorming" confuso, feito a partir
de personagens e temas recorrentes na obra do autor irlandês -desencanto, fastio, peso
da memória e morte aí compreendidos.
Título e fio condutor são decalcados de "Começar a Acabar", monólogo do fim da década de 60 em que Beckett revisita algumas de suas criações célebres, como "Esperando Godot" e "Fim de Jogo". Mas a
dramaturgia final é de Antonio
Abujamra.
Na apresentação de anteontem, os microfones usados pelos atores (Miguel Hernandez e
Natália Parrini dividem a cena
com Abujamra) falharam quase
que do início ao fim e, em vários
momentos, a trilha sonora encobriu suas vozes -isso quando as falas não se atropelaram.
A peça inicia temporada paulistana no próximo dia 10 de outubro, no teatro João Caetano, na
Vila Clementino.
"Tragykomédiorgya"
Também para São Paulo (a
partir da próxima sexta-feira)
segue "Os Bandidos", a "tragykomédiorgya" de Friedrich
Schiller (1759-1805) com que o
Oficina celebra seus 50 anos,
vista em primeira mão na capital gaúcha.
Em seis horas (das 20h20 da
última quarta-feira às 2h20 de
quinta), num espaço da Usina
do Gasômetro (antigo centro
de geração de energia) que reproduzia com bastante fidelidade a passarela da sede da
companhia, o diretor José Celso Martinez Corrêa carnavalizou o duelo entre dois filhos da
aristocracia alemã.
Aqui, Franz e Karl "fantasiaram-se" de Kosmos e Damian,
logo convertidos em Cosme e
Damião. Um almeja comandar
a corporação midiática fundada pelo pai; o outro, enviado ao
Brasil para gerenciar a filial, vive uma crise de identidade e
torna-se líder de um bando de
prostitutas, batedores de carteira, macumbeiros e menores
infratores.
O embate entre o pragmatismo capitalista do primeiro e o
idealismo desbundado do segundo (ou entre Apolo e Dionísio, como talvez prefira Zé Celso) serve de alegoria à luta que
o Oficina trava há quase três
décadas com o Grupo Silvio
Santos pelo uso do terreno contíguo ao teatro, em São Paulo.
As referências diretas à peleja
com o empresário, salpicadas
aqui e ali, agradaram à platéia.
O "desfile antropofágico" do
Oficina abriu alas ainda para
um He-Man (cooptado por
Cosme) que se traveste de Che
Guevara a fim de levar à Alemanha notícias do front latino-americano e para um Diadorim
que, a certa altura, quase se afoga no rio Tietê, para desespero
de Damião.
Cerca de um terço do público
(537 ingressos foram vendidos)
deixou a Usina ao fim do primeiro ato, de três horas e meia.
Nesse período, o bom aproveitamento da música (seis instrumentistas executam, ao vivo, a trilha do espetáculo) e dos
vídeos (que enriquecem a história e vão além do caráter meramente decorativo) empolgou
a platéia.
Quem ficou depois do intervalo viu uma segunda parte de
ritmo mais frouxo, algumas cenas demasiado longas e atores
já no limite de suas forças.
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