São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2008

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Trupe cria espetáculo ao modo Guimarães Rosa

Na peça "Vesperais na Janela", grupo Redimunho imita processo criativo do escritor após passar temporada no sertão mineiro

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em 1952, Guimarães Rosa (1908-67) percorreu o sertão mineiro atrás de uma comissão de vaqueiros. Com um caderno a tiracolo, transpunha, para a literatura, a realidade encontrada no caminho. Mais de meio século depois, o grupo de teatro Redimunho refez os passos do autor. O desejo inicial era adaptar o conto "O Duelo" ao palco, mas, como a família do escritor não se interessou, restou à trupe imitar seu modo de criar. A pesquisa de campo já havia servido à criação de "A Casa", trabalho de estréia do grupo, também inspirado no universo do escritor e que rendeu ao dramaturgo e diretor do grupo, Rudifran Pompeu, o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor texto de 2006. Desta vez, a temporada sertaneja trouxe a própria trama. "Vesperais na Janela", em cartaz num antigo casarão no bairro da Bela Vista, se constituiu de casos ouvidos e vividos nas veredas de Rosa. A poética do espetáculo nasceu pronta. "A fala daquela gente é pura poesia", diz Pompeu, apaixonado por Guimarães Rosa desde os 14 anos, quando se escondia na plantação de mandioca, para ler "Sagarana". Em um dia de sol de 2007, quando o Redimunho passava por Cordisburgo, cidade natal de Rosa, os atores encontraram santos usados num ritual para chamar chuva enterrados ao pé de uma cruz. Curiosos, remexeram nas imagens. Não caía uma gota na região havia seis meses. Algumas horas depois, uma tempestade aliviou a cidade. "Vesperais na Janela" mistura o caso com a experiência do Redimunho no sertão mineiro. Uma trupe de artistas viajantes que troca arte por estadia e comida. Transforma sertanejos em personagens, enfocando suas tradições, religiosidade e música, apresentada ao vivo. Carlita, por exemplo, senhora com sorriso parado e fama de louca, vira Marta, mulher que quer "apassarar", e o peão Eldinho Tira Couro inspira João da Pedra, vaqueiro que a enchente prende no fundo do rio e aprende a calmaria com as águas.

VESPERAIS NAS JANELAS
Quando: sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 20/12
Onde: Casarão da Escola Paulista de Restauro (r. Major Diogo, 91, Bela Vista; tel.: 0/ xx/ 11/ 3101-9645)
Quanto: R$ 30
Classificação indicativa: não recomendada para menores de 12 anos



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