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LIVROS
Crítica/"O Totem..."
Romance exagera nas metáforas e fica redundante
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Logo no início de "O Totem do Lobo", de Jiang
Rong, uma apresentação sem assinatura ou qualquer
identificação afirma: "Esses
animais (os lobos) têm atraído
a imaginação de povos de toda
parte, mas raras vezes foram
tão venerados quanto pelos nômades das estepes mongóis.
Seu papel paradoxal na vida do
povo [...] constitui o núcleo real
e metafórico deste magnífico
romance". Aí o leitor já fica (ou
deveria ficar) assustado: os termos lobo, real, metafórico,
magnífico e romance assim
misturados não devem resultar
em boa coisa.
O livro, com forte inclinação
autobiográfica (quando eles
não têm, ultimamente?), narra
a história de um jovem estudante chinês que, em meio à
Revolução Cultural de Mao
Tse-tung, em 1969, sai de Pequim em direção à Mongólia
Interior para viver com os pastores e aprender suas atividades. Lá, entra em contato com o
conflito entre as idéias mais
"modernas", que os militares
tentavam implementar no local, e a tradição ancestral do povo nômade, que extraíra seus
costumes de uma longa relação
de aprendizado com os lobos.
Essa é provavelmente a parte
quase "real" da história que a
tal da apresentação anônima
menciona. Já a parte "metafórica" exagera bem mais do que
o recomendado na "humanização" dos animais.
Assim, vemos cachorros, cavalos e lobos adotando elaboradíssimas estratégias militares,
em cenas que resultam às vezes
forçadas, às vezes apenas constrangedoras.
Derrocada quase salva
Mais ou menos na metade
das 500 páginas do volume, no
momento em que fica em primeiro plano na história a relação difícil entre o estudante
chinês, o filhote de lobo que ele
resolvera tirar da natureza para
criar e o sábio ancião mongol
que liderava os habitantes da
estepe, o texto se torna mais
fluente e adquire um tom melancólico, de absoluta derrocada do ser humano, que consegue redimir um pouco o início
tão problemático.
Ainda assim, prolixo, redundante em suas idéias e frágil na
caracterização dos personagens, "O Totem do Lobo" termina valendo mais por sua defesa emocionada e triste de um
necessário equilíbrio entre civilização e natureza do que por
qualquer tentativa de criação
literária.
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura
da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
USP.
O TOTEM DO LOBO
Autor: Jiang Rong
Tradução: Vera Ribeiro
Editora: Sextante
Quanto: R$ 39,90 (512 págs.)
Avaliação: regular
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