São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Escultor mineiro lança livro e inaugura mostra com sua produção mais recente, hoje, na Pinacoteca

Amilcar de Castro volta novo aos 81 anos

RODRIGO MOURA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em frente ao edifício da Pinacoteca, nasceu um paredão de ferro, que cinde o céu e contrasta com os troncos magros das árvores. Por trás da obra, o artista: Amilcar de Castro, 81, novo em folha.
Entronado como maior escultor brasileiro vivo, renasce mais uma vez na curadoria de Marcelo Ferraz. A mostra faz do artista veterano não o objeto de uma retrospectiva, mas de um olhar novo, sobre trabalhos nunca vistos que avançam, agressivos, sobre o museu. Sai deste olhar renovado.
Notar as diferenças nesta trajetória nem sempre é fácil: o material, o ferro, é o mesmo; os procedimentos, o corte e a dobra, também são. Mas o laboratório do escultor expande o limite daquilo que a síntese oferece e que o material suporta no plano. Então há o paredão, 5 m x 5 m, e uma dobra improvável, radical, de onde surgem as duas formas.
Castro abandona o polígono regular que sempre foi o nascedouro de suas formas, e uma síntese linear se insinua. "A diferença é que essa escultura não é dobrada na máquina, é o peso da chapa que faz o trabalho, com vários maçaricos. Isso é um bocado chato porque, se a temperatura mudar, dana tudo", diz o artista.
Há ainda, do lado de fora, dez novas obras em bloco, muros sólidos que propõem diálogos arquitetônicos. "Os deslocamentos se evidenciam mais, e o espaço ocupado é mais generoso."
Quase desnecessariamente, a exposição continua no interior da Pinacoteca, com desenhos, esculturas menores e, pasme, pinturas. "Quis fazer uma mostra em três tempos, com escalas variadas, mas com maior ênfase nesse aspecto ciclópico, desafiador, da obra do Amilcar", diz Ferraz.
Vocação intrínseca da escultura, o aspecto público cativa o olhar do crítico Ronaldo Brito. "Essas obras novas propiciam uma escala, o que ainda não havia. É hora de tirar isso dele, colocar os trabalhos nas cidades."
Brito assina ensaio no livro com o nome do artista. Produzida pela galeria Kolans e lançada hoje, a obra repassa a trajetória do artista: advogado por formação, esquerdista de alma, aluno de Guignard por oito anos, signatário do "Manifesto Neoconcreto", reformador gráfico do "Jornal do Brasil", professor que retorna a Belo Horizonte e forma, pelo menos, uma geração de discípulos.
Tornado artista aos 30 anos, Amilcar Augusto Pereira de Castro faz 50 de escultura. E, mineirão, não é de falar muito sobre seu trabalho. Sobre a exposição que abre hoje, por exemplo, afirmou: "Não acho ruim, me dá prazer fazer. Gostei de como está ajeitado". Parece simples. Não é.


AMILCAR DE CASTRO - mostra e lançamento de livro. Curadoria: Marcelo Ferraz. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/229-9844). Quando: hoje, às 20h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 2/12. Quanto: R$ 2. Livro: "Amilcar de Castro". De: Ronaldo Brito e Márcio Sampaio. Editora: Galeria Kolans (0/xx/31/3261-3993). 306 págs., R$ 100 (brochura) e R$ 140 (capa dura).



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