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ANÁLISE
TV Al Jazira mostra outro mundo árabe
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Sem escombros, bombas, decapitações ou imagens de muçulmanos presos ou capturados.
O mundo que a Al Jazira mostra
todo dia em sua edição árabe é diferente do que estamos acostumados a ver nos noticiários televisivos ocidentais.
O planeta é a Terra, o tempo é
contemporâneo. A tecnologia de
gravação e exibição de imagens
naturalistas também. Mas a "janela para o mundo" que a telinha
revela se debruça sobre paisagens
e realidades quase opostas aqui e
lá. Sinal dos tempos.
Muitas vezes vemos o já familiar
logo da emissora sediada no Qatar em emissões da Record, Globo, CNN ou BBC. Afinal nada como câmeras locais, na língua local, para captar eventos no calor
da hora.
Na Guerra do Iraque aprendemos a reconhecer nas imagens da
Al Jazira -marcadas por um grifo que lembra uma gota desenhada com capricho no canto inferior
direito do quadro- relatos confiáveis, produzidos por jornalistas
comprometidos.
A emissora se consolidou no
mundo árabe como um canal privilegiado de construção de uma
imagem visual alternativa ao que
se veicula no ocidente.
Não vemos imagens de árabes
feridos, humilhados ou em posição de ataque terrorista. As paisagens exibidas salientam a estabilidade de países prósperos, habitados por mulheres que aparecem
como apresentadoras de TV,
guardas de trânsito, motoristas e
executivas desfazendo a expectativa convencional no ocidente.
Essa esquizofrenia das imagens
é assustadora. Tem a ver com o
clima de guerra de guerrilha que
tomou conta do mundo depois
dos atentados de 11 de Setembro e
que às vésperas das eleições presidenciais norte-americanas enseja
manifestações fundamentalistas
radicais de parte a parte.
É como se o mundo globalizado
permitisse a convivência momentânea de realidades virtuais conflitantes. Como que a alimentar
um bárbaro espírito beligerante.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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