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Para produtor de Lennon, "SP é NY nos anos 70"
Roy Cicala, que gravou 7 álbuns do ex-beatle, monta estúdio na Vila Mariana
Famoso nome na gravação de álbuns nos EUA, Cicala está no Brasil há quatro anos e acaba de fazer um DVD ao vivo para Nasi
ANDRÉ BARCINSKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em meio a dezenas de aparelhos de som de última geração
montados em um estúdio na
Vila Mariana, alguns itens destoam. Como duas caixas velhas,
surradas pelo tempo, que mais
parecem saídas de um brechó.
"São as caixas de som que
usamos para gravar Hendrix,
Jobim, Miles Davis e Elton
John", diz Roy Cicala, 70. "E essa máquina aqui, sabe o que é?",
apontando para uma antiga
carcaça de metal com botões
grandes. "É a reverb [eco] que
usei em todos os discos de Lennon. Eu gravei "Imagine" nela.
John adorava o efeito."
Cicala, um dos produtores e
técnicos de som mais famosos
dos anos 70 e 80, quando foi sócio do estúdio Record Plant, de
Nova York, dá os últimos retoques em seu novo estúdio, o
South American Plant, uma
parceria com o produtor brasileiro Apollo Nove (Bebel Gilberto, Paralamas do Sucesso).
"Trouxe vários aparelhos
meus, máquinas que não se
acham facilmente por aí."
O produtor tem uma filha
brasileira e está no país há quatro anos. "Vim passar duas semanas e acabei ficando. Eu amo
o Brasil, amo São Paulo. Essa
cidade me lembra muito a Nova
York dos anos 70: perigosa, porém excitante."
Conhecedores da obra de Cicala dizem que sua grande virtude é, de fato, a gravação ao vivo. "Acabamos de fazer o DVD
do Nasi (ex-Ira!), e o Roy gravou tudo ao vivo. Era uma banda gigante, com 45 microfones,
e ele tirou um som maravilhoso", diz Apollo Nove.
O produtor americano já participou da gravação dos novos
álbuns de Forgotten Boys -já à
venda-, de Cibelle e de um
projeto conjunto dos belgas do
Soulwax com a dupla MixHell
(formada por Iggor Cavalera e
Layma Leiton).
Outro trabalho que Cicala
produziu foi o novo álbum do
paulistano Ciro Pessoa, mentor
do Cabine C, banda cultuada
em São Paulo nos anos 80.
Tiro no estúdio
Técnicos e assistentes se divertem com suas histórias. Ele
testemunhou um episódio famoso da carreira do produtor
Phil Spector: durante a gravação do álbum "Rock and Roll"
(1975), de John Lennon, Spector sacou uma arma e deu um
tiro no teto do estúdio.
"Phil era um gênio, mas totalmente insano", conta Cicala.
"Enquanto John cantava, ele
ameaçava apertar o botão e parar a fita, mas daí mudava de
ideia e segurava o braço com a
outra mão. Era como se tivesse
duas personalidades: uma estava gostando do que ouvia, enquanto a outra queria parar."
Roy Cicala já viu de tudo: os
excessos de Jimi Hendrix,
Keith Moon (The Who) e Aerosmith ("Eles me obrigaram a
montar uma bateria dentro de
uma chaminé para obter mais
eco no som. Claro que não deu
certo"), presenciou brigas de
socos e pontapés entre Lou
Reed e a namorada, um travesti
chamado Rachel.
Também comandou uma das
sessões mais surreais da música pop, em março de 1974,
quando Paul McCartney apareceu de surpresa no estúdio e
acabou fazendo uma "jam session" com John Lennon, Stevie
Wonder e Harry Nilsson. Foi a
única vez que Lennon e
McCartney tocaram juntos depois do fim dos Beatles.
Cicala lembra com carinho
especial de John Lennon, com
quem gravou sete álbuns. Ele
guarda um bilhete em que Lennon agradece um empréstimo
para a compra de equipamentos de som, em 1974. "John estava cheio de problemas financeiros, brigando para não ser
deportado pelo governo, e eu
adiantei a grana para ele gravar
"Walls and Bridges". Eu faria o
disco de graça, se ele pedisse."
A ligação de Cicala com a música brasileira começou em
1963, quando era assistente do
produtor musical Phil Ramone
e trabalhou nas gravações de
"Garota de Ipanema" com Stan
Getz e Astrud Gilberto. "Aprendi tudo com Phil", diz. "Ele me
ensinou a gravar uma grande
orquestra com apenas dois microfones, capturando o som ao
vivo. Não há nada mais bonito
do que o som de músicos talentosos tocando juntos."
Cicala foi o técnico de outras
gravações, como o "Concerto
para Bangladesh" (1971) e o disco ao vivo "Frampton Comes
Alive" (1976), grande sucesso
de Peter Frampton.
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