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Livro e exposição apresentam produção africana de quadrinhos
"Aya de Yopugon" revela cotidiano jovem na Costa do Marfim além da miséria
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"É muito difícil para os africanos fazer quadrinhos. É uma
pena, porque há muitos africanos talentosos que têm coisas a
dizer e não têm oportunidade
de se fazer conhecer ou de serem editados porque estão em
países sem estrutura para isso."
Essa é a opinião da escritora
Marguerite Abouet, nascida na
Costa do Marfim e radicada na
França desde os 12 anos.
Apesar das dificuldades, entretanto, há quadrinhos sendo
criados na África, como mostram a exposição "Picha", aberta semana passada no museu
Afro Brasil, e o recém-lançado
livro "Aya de Yopugon", escrito
por Abouet e desenhado pelo
marido dela, o francês Clément
Oubrerie.
"Aya de Yopougon" é a primeira história em quadrinhos
escrita por Abouet. O livro já teve três continuações e foi premiado em 2006 em Angoulême, tradicional festival europeu de quadrinhos, na categoria de melhor álbum de estreia.
"Quando a mídia chega na
África Ocidental, ela nos mostra excessivamente como os
africanos morrem, nunca como
eles vivem", diz Abouet. "E, inversamente, o cinema de animação e a literatura focalizam
contos e lendas, uma visão folclórica que não coincide com a
vida de um africano moderno."
Aya, a personagem-título,
tem 19 anos e mora em Abidjã,
Costa do Marfim. Ela é estudiosa e quer se tornar médica. O livro mostra sua amizade com
duas moças da mesma idade,
que estão mais interessadas em
namorar e se divertir. "O fato
de "Aya" contar sem rodeios a
vida diária em países africanos,
sem a ladainha habitual midiática sobre as guerras, a fome ou
a Aids é a razão de seu sucesso
no Ocidente", diz a roteirista.
"Picha"
A exposição "Picha" (desenho, em suaíli) chega a São Paulo após passar por Holanda, Espanha e Nigéria. Reúne originais de artistas de 17 países africanos -inclusive oito páginas
de "Aya de Yopougon".
Estão expostos trabalhos que
vão do traço mais cartunesco,
como os de Farid Boudjellal (da
Argélia), a ilustrações mais realistas, como as de Pat Marioni
(República Democrática do
Congo). E há trabalhos com denúncias de violações de direitos
humanos, como os do marroquino Mohammed Nadrani,
que começou a desenhar na cadeia após ser preso em um protesto estudantil.
AYA DE YOPOUGON
Autores: Marguerite Abouet e Clément Oubrerie
Editora: L&PM
Quanto: R$ 38,90 (106 páginas)
PICHA
Quando: de ter. a dom., das 10h às 17h;
até 14/11; livre
Onde: Museu Afro Brasil (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5579-0593)
Quanto: entrada franca
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