São Paulo, terça-feira, 20 de outubro de 2009

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Livro e exposição apresentam produção africana de quadrinhos

"Aya de Yopugon" revela cotidiano jovem na Costa do Marfim além da miséria

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"É muito difícil para os africanos fazer quadrinhos. É uma pena, porque há muitos africanos talentosos que têm coisas a dizer e não têm oportunidade de se fazer conhecer ou de serem editados porque estão em países sem estrutura para isso."
Essa é a opinião da escritora Marguerite Abouet, nascida na Costa do Marfim e radicada na França desde os 12 anos.
Apesar das dificuldades, entretanto, há quadrinhos sendo criados na África, como mostram a exposição "Picha", aberta semana passada no museu Afro Brasil, e o recém-lançado livro "Aya de Yopugon", escrito por Abouet e desenhado pelo marido dela, o francês Clément Oubrerie.
"Aya de Yopougon" é a primeira história em quadrinhos escrita por Abouet. O livro já teve três continuações e foi premiado em 2006 em Angoulême, tradicional festival europeu de quadrinhos, na categoria de melhor álbum de estreia.
"Quando a mídia chega na África Ocidental, ela nos mostra excessivamente como os africanos morrem, nunca como eles vivem", diz Abouet. "E, inversamente, o cinema de animação e a literatura focalizam contos e lendas, uma visão folclórica que não coincide com a vida de um africano moderno."
Aya, a personagem-título, tem 19 anos e mora em Abidjã, Costa do Marfim. Ela é estudiosa e quer se tornar médica. O livro mostra sua amizade com duas moças da mesma idade, que estão mais interessadas em namorar e se divertir. "O fato de "Aya" contar sem rodeios a vida diária em países africanos, sem a ladainha habitual midiática sobre as guerras, a fome ou a Aids é a razão de seu sucesso no Ocidente", diz a roteirista.

"Picha"
A exposição "Picha" (desenho, em suaíli) chega a São Paulo após passar por Holanda, Espanha e Nigéria. Reúne originais de artistas de 17 países africanos -inclusive oito páginas de "Aya de Yopougon".
Estão expostos trabalhos que vão do traço mais cartunesco, como os de Farid Boudjellal (da Argélia), a ilustrações mais realistas, como as de Pat Marioni (República Democrática do Congo). E há trabalhos com denúncias de violações de direitos humanos, como os do marroquino Mohammed Nadrani, que começou a desenhar na cadeia após ser preso em um protesto estudantil.


AYA DE YOPOUGON

Autores: Marguerite Abouet e Clément Oubrerie
Editora: L&PM
Quanto: R$ 38,90 (106 páginas)

PICHA

Quando: de ter. a dom., das 10h às 17h; até 14/11; livre
Onde: Museu Afro Brasil (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5579-0593)
Quanto: entrada franca




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