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4ª BIENAL INTERNACIONAL DE ARQUITETURA
Arquitetura da reconstrução
Começa hoje em SP a 4ª Bienal Internacional, que quer resgatar na população o desejo de cidadania
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FRANCESCA ANGIOLILLO
da Redação
Os salões do pavilhão Ciccillo
Matarazzo se abrem hoje, às
11h30, para mostrar a 4ª Bienal Internacional de Arquitetura. O
evento, composto por 68 mostras
e salas, não tem um tema ou tendência definidos, mas tem um objetivo que a norteia: dar subsídios
ao habitante dos centros urbanos
para que ele possa exigir seus direitos de cidadão.
Como? Os curadores da megaexposição respondem em eco:
promovendo debates e exibindo
projetos, realizados ou por realizar, das mais variadas épocas e
procedências, que se afirmem como paradigmas. Informados das
possibilidades que a arquitetura e
o urbanismo oferecem em termos
de qualidade de vida, os visitantes
colocarão a questão: se lá é possível, por que aqui não seria?
Os organizadores da 4ª BIA deixam claro que, justamente por esse caráter didático pretendido, a
exposição que inauguram hoje
não é destinada ao público específico de arquitetos e estudantes.
O presidente da Fundação Bienal, o arquiteto Carlos Bratke,
acha que a arquitetura, "infelizmente", ainda é encarada pela
classe média como "cenário, como coisa de palácios franceses".
Bratke ressalta que, apesar do
evento ter salas que se prestam a
um "aprofundamento teórico",
há uma série de outras que se
aproximam do "homem comum" -justamente o tal que, leigo, tende a ver a disciplina como
acessório, algo distante do dia-a-dia, e não como elemento modificador da qualidade de vida.
Quando Bratke se refere à teoria, ele cita o exemplo da maior
das 47 salas especiais da mostra, a
que é destinada ao arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe
(1886-1969), no 3º pavimento.
Purista, sofisticado, autor de
edifícios leves, de aço e vidro e linhas retas, Mies era defensor do
"menos é mais". Para um primeiro olhar, não habituado, sua arquitetura pode parecer exageradamente singela, mas a impressão
desaparece ao observarmos a depuração das formas e o cuidado
com o detalhe -o arquiteto costumava desenhar até mesmo o
mobiliário para seus projetos.
Elementos aproximadores
Se, por um lado, o purismo alemão pode espantar o visitante desavisado, a sala de Mies é uma das
que contam com elementos que
Lucio Gomes Machado, arquiteto
e um dos curadores do evento, vê
como aproximadores do público.
"Não é só planta para arquiteto.
Há muitas salas como a do Mies,
com objetos que o público vê, reconhece", explica.
Nessa linha, outra mostra que
deve chamar a atenção é "Danish
Wave". São cerca de 60 exemplos
de arquitetura e design dinamarqueses, que ilustram a tão propalada engenhosidade escandinava.
A criatividade começa nos painéis da montagem (feitos do mesmo material que os ímãs de geladeira, colocados sobre bases metálicas) e se estende a objetos de
uso diário, como um aspirador de
pó que ganhou alças e é usado como uma mochila.
"Na Dinamarca, homens e mulheres fazem o mesmo", diz, rindo, um dos organizadores da sala,
ao vestir o equipamento.
Um dos aspectos mais interessantes exibidos na mostra dinamarquesa é a proposta de "bom
desenho" para todos, que chamam de "atitude democrática".
Por exemplo, por que um deficiente auditivo deveria usar um
aparelho feio, que tenta, inutilmente, esconder? Mais vale transformá-lo em acessório, dotando o
aparelho de capinhas de plástico
transparente e colorido, intercambiáveis, que o usuário pode
selecionar de acordo com a roupa
ou o estado de espírito. Um cruzamento curioso de "Champion
Watch" (lembra?) com iMac, último objeto de desejo do design.
Outro exemplo de sala que pode
fomentar o desejo de cidadania
dos visitantes, para Machado, é a
do arquiteto João Filgueiras Lima,
o Lelé, que mantém na Bahia um
centro avançado de tecnologia da
construção e é visto como um paradigma, não só da técnica, mas
também do conceito.
Seus projetos mais admirados
são os dos hospitais para recuperação locomotora da rede Sarah
Kubitschek, dotados de ambientes coloridos e arejados, em nada
semelhantes aos odiados "ambientes hospitalares".
"Ver outras realidades aumenta
o universo. Lelé é um arquiteto de
altíssimo nível, pouco conhecido,
até aqui. Será que não temos outros "Lelés" por aí, subvalorizados?", conclui o curador.
Além das salas e mostras, para
cumprir seu objetivo de inspirar a
cidadania, a 4ª BIA ainda tem
programados uma série de eventos, como palestras e debates, e será acompanhada de lançamentos
de livros e mostras paralelas, em
outros lugares da cidade.
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