São Paulo, Sábado, 20 de Novembro de 1999
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"O QUE O MORDOMO VIU"

Comédia traz o teatro corrosivo de Joe Orton

da Reportagem Local

"O Que o Mordomo Viu" é uma peça com muitas portas para entrar e sair do palco. A própria peça comenta que tem muitas portas, como alguma farsa francesa típica. Mas Joe Orton, o autor de "O Que o Mordomo Viu", não é Georges Feydeau.
Autor cômico maior dos anos 60 na Inglaterra, Orton faz uma crítica social à maneira de Lenny Bruce, o lendário cômico "stand-up" norte-americano da mesma época: uma crítica sedutora de início e depois corrosiva, até furiosa, como numa armadilha. Ele deixou seguidores em peças como "Shopping and Fucking", de Mark Ravenhill.
O texto "O Que o Mordomo Viu" (67) é o seu melhor, escrito quando iniciava o período de autor mais amadurecido, em nuances de estilo, em domínio da dramaturgia. Mas Orton foi assassinado em seguida pelo namorado, como registra a biografia -depois também filme- "Prick Up Your Ears", e se fixou como um ícone dos anos 60.
A montagem brasileira, que volta para curta temporada no teatro Sérgio Cardoso depois da passagem pelo Centro Cultural São Paulo, vista pelo crítico, está longe de ser furiosa, pelos próprios limites do elenco.
Não por Ary França, que faz um psiquiatra histérico que mal controla os seus impulsos fascistas -até lançando algumas frases involuntárias em alemão. Também as atrizes Zuzu Abu e Suia Legaspe estão com caracterizações justas, irretocáveis, para os tipos, as caricaturas delineadas por Joe Orton no texto.
Mas Marcos Daud, que já vinha de um Polônio constrangedor no "Hamlet" de Marco Ricca, dois anos atrás, distribui sua entonação de teatro infantil, uma vez mais, por quase tudo. Ele faz um psiquiatra, pivô das confusões no manicômio.
Nem Orton supera um protagonista assim -ou, por outro lado, um cenário de confecção tão desordenada. (NS)


Avaliação:   


Peça: O Que o Mordomo Viu
Direção: Alfredo de Aguiar
Música: André Abujamra
Com: Marcos Daud, Ary França, Suia Legaspe e outros
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h
Onde: Teatro Sérgio Cardoso, sala Paschoal Carlos Magno (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, região central, tel. 0/xx/ 11/ 288-0136)
Quanto: R$ 15



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