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LÍNGUA PORTUGUESA
"Inculta e Bela" faz bom
uso da grife Pasquale
ROGÉRIO ORTEGA
Coordenador do Programa de Qualidade
Resenhas de livros não costumam
começar pela capa.
Quem as faz tem de
se concentrar, evidentemente, no
conteúdo das obras: afinal, capas
existem para ser espelhos mais ou
menos fiéis -e, sobretudo,
atraentes- do que vai dentro.
Mas esta merece ser comentada.
Trata-se provavelmente da primeira vez que a capa de um livro
sobre gramática estampa com tal
destaque uma foto (na verdade,
sete) de seu autor. Ora, se o tema é
geralmente árido e sempre o mesmo, que diferença faz quem escreve?
Pasquale Cipro Neto tornou-se
essa diferença. Sua presença na
TV e no rádio e as colunas que assina em revistas e jornais (entre os
quais a Folha) conseguiram fazê-lo popular ao lidar com um assunto que predispõe fortemente à
antipatia: mostrar às pessoas que
elas cometem erros de português
-ou, para usar os termos mais
suaves do professor, não seguem
a norma culta da língua. Hoje,
Pasquale é uma espécie de grife
gramatical.
O livro "Inculta e Bela" faz bom
uso editorial dessa grife. É uma
compilação dos textos publicados
por Pasquale na coluna semanal
homônima, no caderno Cotidiano/São Paulo da Folha, entre novembro de 97 e dezembro de 98.
As colunas estão dispostas em ordem cronológica e trazem um índice remissivo no final, o que reforça o caráter de "tira-dúvidas"
do volume.
Sem pretensões à abrangência
de uma gramática, o livro dá socorro a quem, por exemplo, precise saber a diferença entre "eminente" e "iminente" ou queira decifrar os mistérios da colocação
pronominal. Mas seus textos, às
vezes, podem ser lidos como crônicas -especialmente quando
Pasquale recorre a histórias pitorescas para ilustrar os tópicos de
que trata.
"Fundamentalismo"
Quem julgar o livro pela capa
dificilmente se decepcionará. As
características da grife estão ali
-do recurso constante a letras de
MPB, frases publicitárias e trechos de reportagens ao tom de
bate-papo que entremeia as explicações professorais, dando-lhes
leveza. Mas não só. "Inculta e Bela" desenha, para além da capa,
um bom retrato do autor e de sua
circunstância nos meios de comunicação por que transita.
Pasquale não faz jus ao rótulo
de "fundamentalista" com que alguns querem, aparentemente, enfeitar-lhe a testa. Condena o que
considera vícios da linguagem
oral, mas insiste na diferença entre esta e a escrita, reconhece a diversidade de falas do Brasil, elogia
certos usos coloquiais de palavras
e expressões.
Ao que parece, nem sempre isso
adianta. Tanto que as poucas passagens em que Pasquale deixa a
delicadeza no armário são dedicadas aos linguistas ("idiotas, ociosos") que consideram a língua falada "sempre boa".
Não importa. "Inculta e Bela"
diverte e é um bom instrumento
de consulta para os não-ociosos.
Seu único senão é repetir alguns
temas, em virtude da ordem cronológica; isso faz mais sentido
num jornal, com uma semana de
distância entre cada coluna, do
que num livro.
Nada que desanime, porém,
quem insiste em falar português
nestes tempos de globalização anglófona. "That's all, folks." Ou
melhor: é isso.
Avaliação:
Livro: Inculta e Bela
Autor: Pasquale Cipro Neto
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 18 (152 págs.)
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