São Paulo, domingo, 20 de novembro de 2005

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DECADÊNCIA SEM ELEGÂNCIA

Programa da Rede TV! assume a ponta do ranking do "setor", com o recorde de 3.189 reclamações

"Boca-suja", "Pânico" vira o rei da baixaria

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Pela primeira vez desde que foi lançado, há dois anos, o ranking da baixaria não trará no topo da lista dos piores programas da TV atrações de João Kléber, Ratinho, Gugu Liberato ou novelas da Globo. O "campeão" da décima edição do ranking, que será divulgada nesta semana, é o humorístico "Pânico na TV" (Rede TV!).
O ranking é produzido pela campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, ligada à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Seu objetivo é receber denúncias contra programas, divulgá-las e forçar anunciantes a não investirem em programas de má qualidade.
O "Pânico na TV" foi alvo entre 4 de junho e 10 de novembro de 3.189 "denúncias fundamentadas", um recorde. Nunca um programa "líder" da baixaria recebera mais do que 205 reclamações no período contabilizado. O "Pânico" alavancou a campanha, que nos últimos cinco meses recebera 5.449 denúncias -ou 21% do total de seus dois anos de existência.
O ranking divulga os principais motivos que levaram telespectadores a telefonarem ou escreverem contra determinado programa. O "Pânico" foi denunciado por usar "palavras de baixo calão", expor pessoas ao ridículo e por "crueldade contra animais".
Coordenador da campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, o deputado federal Orlando Fantazzini (PSOL-SP) explica a "crueldade": recentemente, o "Pânico" instalou microcâmera em um balão de gás e amarrou nele um ratinho, registrando o "vôo" do bichinho.
"O "Pânico" sempre apareceu no ranking, mas nunca em primeiro. Acredito que as pessoas hoje têm maior conhecimento da campanha e ficaram sensibilizadas pelo uso de forma cruel de um animal. Embora seja um programa de humor, o "Pânico" tem conteúdo que desrespeita o telespectador, extrapola, ridiculariza e menospreza o ser humano", afirma Fantazzini.
Emílio Surita, apresentador do "Pânico", discorda, obviamente. "Não vejo baixaria no "Pânico" por causa de anões. O "Pânico" é uma grande gozação. Outro problema é que usamos linguagem da molecada, então acham que isso é palavrão. A gente nunca foi homofóbico. Usamos a cartilha do humor que sacaneia o homossexual, mas dizer que isso é baixaria é muito subjetivo", diz.
Surita esclarece que o ratinho usado na "experiência" dos balões de gás não foi torturado. "Ele só subiu cinco metros e desceu. Fizemos um making of que prova que não houve maus-tratos."
Outro humorístico bem posicionado no décimo ranking da baixaria é o "Casseta & Planeta", da Globo. Aparece em terceiro lugar, com 102 reclamações, atrás de João Kléber (344).
O "Casseta" foi "vítima" de uma frase infeliz sobre a crise do "mensalão". Na edição de 13 de julho, foi dito que "em Brasília só tem prostituta e ladrão". Mais da metade das reclamações (67) vieram do Distrito Federal.
Fantazzini nega que políticos tenham vestido a carapuça. "As pessoas de bem de Brasília se ofenderam. Eles generalizaram ao dizer que a cidade só tem prostituta, foram ofensivos. Essa é uma forma equivocada de fazer humor. Não acredito que a única forma de fazer humor seja o escracho", afirma o deputado.
"A gente não sacaneia Brasília, mas os políticos", se defende Manfredo Barretto, empresário dos "cassetas".
A Globo relativiza a importância do ranking da baixaria. Oficialmente, diz que "o universo das pessoas que se manifestam é tão inexpressivo que chega a ser consagrador para a Globo em termos de qualidade".
O SBT acredita que o "Programa do Ratinho" ainda aparece no ranking (em quinto) porque muitos telespectadores não teriam notado que a atração mudou, no início deste ano. "A troca dos quadros de teste de DNA e de brigas entre casais por informação e entretenimento já trouxe benefícios ao apresentador e ao SBT, que qualificou o seu público", afirma a emissora, em nota.
Fantazzini retruca a acusação da Globo de que o ranking é inexpressivo. "A campanha é representativa e expontânea", diz. Contesta também o argumento de que baixaria é algo subjetivo. Afirma que a campanha usa critérios de respeito à dignidade humana estabelecidos na Constituição, em tratados internacionais e em leis. "Não tem subjetividade, questão de gosto ou fundamentalismo religioso", protesta.


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