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DECADÊNCIA SEM ELEGÂNCIA
Programa da Rede TV! assume a ponta do ranking do "setor", com o recorde de 3.189 reclamações
"Boca-suja", "Pânico" vira o rei da baixaria
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Pela primeira vez desde que foi
lançado, há dois anos, o ranking
da baixaria não trará no topo da
lista dos piores programas da TV
atrações de João Kléber, Ratinho,
Gugu Liberato ou novelas da Globo. O "campeão" da décima edição do ranking, que será divulgada nesta semana, é o humorístico
"Pânico na TV" (Rede TV!).
O ranking é produzido pela
campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, ligada
à Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados. Seu
objetivo é receber denúncias contra programas, divulgá-las e forçar anunciantes a não investirem
em programas de má qualidade.
O "Pânico na TV" foi alvo entre
4 de junho e 10 de novembro de
3.189 "denúncias fundamentadas", um recorde. Nunca um programa "líder" da baixaria recebera mais do que 205 reclamações
no período contabilizado. O "Pânico" alavancou a campanha, que
nos últimos cinco meses recebera
5.449 denúncias -ou 21% do total de seus dois anos de existência.
O ranking divulga os principais
motivos que levaram telespectadores a telefonarem ou escreverem contra determinado programa. O "Pânico" foi denunciado
por usar "palavras de baixo calão", expor pessoas ao ridículo e
por "crueldade contra animais".
Coordenador da campanha
Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, o deputado federal Orlando Fantazzini (PSOL-SP)
explica a "crueldade": recentemente, o "Pânico" instalou microcâmera em um balão de gás e
amarrou nele um ratinho, registrando o "vôo" do bichinho.
"O "Pânico" sempre apareceu no
ranking, mas nunca em primeiro.
Acredito que as pessoas hoje têm
maior conhecimento da campanha e ficaram sensibilizadas pelo
uso de forma cruel de um animal.
Embora seja um programa de humor, o "Pânico" tem conteúdo que
desrespeita o telespectador, extrapola, ridiculariza e menospreza o
ser humano", afirma Fantazzini.
Emílio Surita, apresentador do
"Pânico", discorda, obviamente.
"Não vejo baixaria no "Pânico"
por causa de anões. O "Pânico" é
uma grande gozação. Outro problema é que usamos linguagem
da molecada, então acham que isso é palavrão. A gente nunca foi
homofóbico. Usamos a cartilha
do humor que sacaneia o homossexual, mas dizer que isso é baixaria é muito subjetivo", diz.
Surita esclarece que o ratinho
usado na "experiência" dos balões de gás não foi torturado. "Ele
só subiu cinco metros e desceu.
Fizemos um making of que prova
que não houve maus-tratos."
Outro humorístico bem posicionado no décimo ranking da
baixaria é o "Casseta & Planeta",
da Globo. Aparece em terceiro lugar, com 102 reclamações, atrás
de João Kléber (344).
O "Casseta" foi "vítima" de uma
frase infeliz sobre a crise do "mensalão". Na edição de 13 de julho,
foi dito que "em Brasília só tem
prostituta e ladrão". Mais da metade das reclamações (67) vieram
do Distrito Federal.
Fantazzini nega que políticos tenham vestido a carapuça. "As
pessoas de bem de Brasília se
ofenderam. Eles generalizaram ao
dizer que a cidade só tem prostituta, foram ofensivos. Essa é uma
forma equivocada de fazer humor. Não acredito que a única
forma de fazer humor seja o escracho", afirma o deputado.
"A gente não sacaneia Brasília,
mas os políticos", se defende
Manfredo Barretto, empresário
dos "cassetas".
A Globo relativiza a importância do ranking da baixaria. Oficialmente, diz que "o universo das
pessoas que se manifestam é tão
inexpressivo que chega a ser consagrador para a Globo em termos
de qualidade".
O SBT acredita que o "Programa do Ratinho" ainda aparece no
ranking (em quinto) porque muitos telespectadores não teriam
notado que a atração mudou, no
início deste ano. "A troca dos quadros de teste de DNA e de brigas
entre casais por informação e entretenimento já trouxe benefícios
ao apresentador e ao SBT, que
qualificou o seu público", afirma a
emissora, em nota.
Fantazzini retruca a acusação da
Globo de que o ranking é inexpressivo. "A campanha é representativa e expontânea", diz. Contesta também o argumento de que
baixaria é algo subjetivo. Afirma
que a campanha usa critérios de
respeito à dignidade humana estabelecidos na Constituição, em
tratados internacionais e em leis.
"Não tem subjetividade, questão
de gosto ou fundamentalismo religioso", protesta.
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