São Paulo, domingo, 20 de novembro de 2005

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MAPA CULTURAL

Bairro da zona oeste de SP ganha novos endereços marcados pelo diálogo entre vários gêneros artísticos

Salas "multiuso" reinventam a Vila Madalena

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Grafites decoram salão do recém-aberto Studio SP, centro de experimentação artística, também no bairro da zona oeste de SP


GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela já foi vila industrial, bairro universitário, reduto boêmio. De ano em ano, novas lojas, bares e ateliês transformam o panorama daquele que é o equivalente paulistano para o Soho nova-iorquino ou para o Palermo portenho.
Nos últimos seis meses, quatro novos espaços vêm aumentar a oferta de atividades culturais da Vila Madalena. Notável, porém, é que não se tratam propriamente de novos teatros ou casas de shows, mas de espaços heterogêneos, centros múltiplos abertos ao diálogo entre as várias formas de pensar e fazer arte.
Assim, por exemplo, é o Contraponto, misto de galeria, teatro e centro de palestras recém-inaugurado pela família Fingermann -o artista plástico Sérgio, a psicanalista Dominique e seus filhos, Mathias e Elisa, ambos atores. A idéia surgiu quando a casa da família começou a ficar pequena para os cursos de pintura e eventos paralelos que ali aconteciam.
"Dou aulas há anos e tenho sentido uma espécie de autismo sufocante no mundo das artes plásticas. Só se usa um vocabulário próprio e auto-referente o tempo inteiro... Foi da necessidade de criar um diálogo das artes com a música, com a filosofia, com a literatura que nasceu o Contraponto", conta Sérgio Fingermann.
Mas o que é o espaço afinal? Em poucas palavras, trata-se de um conjugado de galeria para exposições e um teatro de arena que comporta entre 35 e 60 pessoas, dependendo da ordenação.
"Na verdade nós construímos um grande vazio que de vez em quando pode ser preenchido. Acho que estava faltando isso, essa possibilidade polifônica. Os espaços oficiais estão desgastados, elitizados, mercantilizados."
O vazio vem sendo preenchido de formas variadas: a peça "A Morta", texto de Oswald de Andrade com direção de Marcelo Lazzaratto está em cartaz às sextas e sábados (até 3/12), e o espaço já se prepara para, entre os dias 5 e 11/12, abrigar uma semana dedicada a Pirandello.
A noção de contraponto está também no plano das idéias: no próximo dia 30, por exemplo, o centro recebe o filósofo José Arthur Gianotti para uma palestra/ bate-papo. "Seja para concordar, seja para discordar, Gianotti é um filósofo de renome que recentemente escreveu sobre artes plásticas e foi recebido com silêncio pela comunidade", diz Fingermann. "Precisamos da reflexão."

Som na caixa
Igualmente múltipla, porém completamente diferente, é a proposta do Studio SP, espaço que o músico Guga Stroeter e os sócios Alexandre Youssef, Maurizio Longobardi e Pati Rabello acabam de tirar do forno.
O galpão na rua Inácio Pereira da Rocha (que até poucos meses atrás abrigava o Bop - Bistrô Eletrônico) foi inteiro reformado e ganhou nova conjugação: estúdio para gravações, uma enorme sala com piso de madeira -pensado para apresentações de dança, teatro, DJs e VJs- e intervenções artísticas nas paredes.
De dia, o espaço é um centro para workshops, oficinas, ensaios, gravações e afins; à noite, artistas "residentes" (mensalmente programados) apresentam shows, peças, performances eletrônicas e maluquices de toda espécie.
"Pensamos num espaço em que as coisas possam interagir: que o estúdio possa gravar ao vivo os shows que estejam acontecendo; que os DJs venham para cá durante o dia para criar as músicas que virão tocar aqui durante a noite e assim por diante. O que queremos é movimentar a cena cultural, a cena jovem", diz Stroeter.
Também é de Guga Stroeter o comando da sala Sambatá, espaço de espetáculos inaugurado em setembro. Aqui, o foco é menos as inovações tecnológicas e eletrônicas e mais a cultura de raiz. Atualmente, o espaço multicolorido -um palco central cercado por um conjugado de arquibancadas e cadeiras- abriga a temporada de "Baile Estelar", musical que aproxima o jazz, a salsa e o samba no belíssimo cenário criado por Bruno Schmidt.

Arte branca
É numa casa da rua Harmonia que fica a nova galeria Eduardo H. Fernandes. O espaço já existia há oito anos como escritório de arte, mas foi apenas no segundo semestre deste ano que o marchand conseguiu transformá-lo em espaço de exposições. Tanto dentro como fora, a casa reformada é inteiramente pintada de branco, "clean". As três salas abrigam mostras temporárias e partes do acervo do galerista.
Atualmente, as paredes de Fernandes pegam carona na Bienal de Arquitetura com uma coletiva de fotografia "urbana". Há trabalhos de Kristin Capp, Nelson Kon, Rômulo Fialdini e Tuca Reinés. A partir do dia 29, entretanto, as imagens cedem lugar às artes plásticas, com a abertura de "Desenhos", de Newman Schutze.


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