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Coral americano alinha aposentadoria à música pop
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Se Mick Jagger ainda tem permissão para cantar "(I Can't Get
No) Satisfaction" aos 62 anos, por
que causaria estranhamento a
versão de "Paint It Black" com o
Young at Heart Chorus?
O grupo (na tradução, coral dos
jovens de coração) é integrado
apenas por aposentados, e para
entrar no grupo a idade mínima é
73 anos -a integrante mais velha
está com 92. Mais que isso: o repertório é preenchido por singulares interpretações de conhecidas (e algumas nem tão conhecidas assim) canções como... "Forever Young" (Bob Dylan), "What a
Drag It Is Getting Old" (Stones),
"Fake Plastic Trees" (Radiohead),
"One" (U2), "Dancing in the
Dark" (Bruce Springsteen), "A
Day in the Life", "Within You without You" (ambas do "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band").
No show entra até uma versão de
"Hey Ya", dos rappers Outkast...
Nenhum de seus 21 cantores teve formação profissional. Mesmo
assim, o coral criado como uma
brincadeira em 1983 em Northampton, Massachusetts, fez-se
ouvir longe -no mês passado,
encerraram temporada de 11 dias,
com ingressos esgotados, no Lyric
Hammersmith, em Londres.
"À primeira vista, sim, pode parecer um truque, uma piada, uma
situação paternalista até. Mas está
longe disso. Se você ler as críticas
nos jornais europeus, verá que
nos levam muito a sério. Isso não
é um serviço social. Essas pessoas
trabalham duro, ensaiam três vezes por semana. Em Londres fizeram 12 shows em 11 dias", contou
à Folha Bob Cilman, 52, fundador
e diretor artístico do YAHC -o
site do grupo é www.youngatheartchorus.com).
É Cilman quem escolhe as músicas (20 para cada show) apresentadas pelo coral. "Eles [os cantores] não conhecem as canções,
então é interessante o modo como elas serão cantadas. Não damos os CDs a eles; o pianista toca
a canção e o grupo encontra uma
forma de interpretação", explica.
"Porque, em música pop, normalmente as pessoas não prestam
muita atenção às letras, se interessam pela melodia e pelo ritmo.
Mas, no coral, eles realmente se
esforçam para tentar entender o
que o artista quis dizer."
A primeira excursão internacional do grupo veio em 1997, quando foram atração de um festival
na Holanda. Alemanha, País de
Gales, Noruega, Inglaterra e Austrália foram também visitados.
Todos os shows têm o acompanhamento de um médico. "Na
primeira turnê, levamos um médico. O curioso é que ele foi o único que passou mal... Depois disso,
resolvemos contratar os médicos
nas cidades em que visitamos",
diz Cilman. Um ex-membro do
coral quebrou uma costela enquanto cantava "I Feel Good" (James Brown). "A mais velha, de 92
anos, se envolveu num acidente
de carro sério há dois anos. Os
médicos diziam que ela não iria
sobreviver. Mas hoje ela está no
palco. Um outro esteve na UTI
apenas três semanas antes de viajarmos a Londres, com problemas no pulmão. Uma das cantoras sofreu um ataque cardíaco em
2004, e hoje continua no grupo."
"São pessoas comuns, e não atores ou cantores. Com essa gente,
músicas como "I Will Survive" assumem significado totalmente diferente", afirmou o norte-americano Paul Lieberman, 49, um
"quase brasileiro", que já acompanhou o grupo como pianista e,
nos anos 70 e 80, tocou com Simone, Djavan e Roberto Carlos.
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