São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2008

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NINA HORTA

A carregadora de livros


A herança que essa "nouvelle-nouvelle" está reafirmando são os pratos pequenos

SE VOCÊ está morrendo de fome, não leia a receita abaixo. É perversa. Não fui eu a inventora, mas sim o famosíssimo Alex Atala, grande celebridade culinária do momento, coisa bem merecida, proprietário do D.O.M.
Faz para os filhos dele, no café da manhã, e comem e se lambuzam. Ingredientes: 100 g de manteiga, 100 ml de leite; um copo de requeijão, seis ovos, sal. Misture a manteiga, o leite e o requeijão a frio e leve para derreter no banho-maria em temperatura amena (por volta de 40 graus). Bata bem os ovos. Some à mistura, mexendo vigorosamente.
Sempre mexendo, cozinhe até chegar à consistência desejada. Verifique o sal e sirva imediatamente.
Uhm, como deve ser gostoso, deve se parecer ao requeijão que minha mãe fazia no sítio. Geralmente, faço a resenha dos livros de comida bem depois que saíram por não ter tempo de ler e fazer as receitas ao mesmo tempo. Estarão certas, bem experimentadas, bem explicadas?
Nos últimos tempos, um outro problema veio se juntar ao do tempo. O peso! Impossível carregar os livros de cá para lá, que, confesso, é minha mania até me acostumar com todos. Os livros dos espanhóis que andaram por aqui pesam uns oito quilos cada um. Tentei comprar todos, não consegui, mas oito daqueles livros são 64 quilos, mais uns três quilos das "Escoffianas Brasileiras", de Atala e Carolina Chagas, vocês entendem... Acontece que a editora, ou não sei quem, teve a idéia brilhante de fazer como aquela ótima e antiga coleção do "Time Life", com as receitas repetidas num caderno anexo, que cabe na bolsa, pode ser colocado na pia, na prateleira, sobre o fogão e até equilibrado na tampa da panela.
Se você não gosta de comida contemporânea moderna, acho que deveria comprar assim mesmo, que coisa mais feia, preconceito na cozinha. Se não gostar mesmo, dê de presente ao pior amigo, que sairá ganhando neste Natal.
Para mim, a herança que essa "nouvelle-nouvelle" está reafirmando são os pratos pequenos.
Quem agüenta, atualmente, comer um prato de estivador, até as bordas? Fomos nos acostumando e mudamos de jeito. Comemos a prestação e sem juros, numa boa.
Bem, então passei a semana inteira com o livro do Atala, da cozinha para casa, da casa para a cozinha e fiquei muito feliz. As coisas que já comi lá, pulei, confesso, porque já vi que deram certo.
E você? Quer aprender a fazer manteiga de coral? Consegue-se com a cabeça dos camarões, o Alain Chapel também fazia isso, e agora, na crise, é um "must". Feijão, carne-seca e abóbora, tudo bem pequeno e arrumado no fundo de um prato com manteiga-de-garrafa.
Uhm, nhoque com rabada. E uma novidade das boas, lula cozida a frio (pela ação do sal fica crocante e cozida ao mesmo tempo). Tem um sorbet de jabuticaba com wasabi.
Acreditem, é bom. Faço no bufê trufas com wasabi, inventamos para uma festa Brasil-Japão e ficaram deliciosas. Chocolate às vezes precisa de um susto, uma pimenta, um condimento.
Tem um creme de bacalhau com feijão e couve e um crème brûlée de foie gras e milho verde muito do chique. (Estão nas páginas reservadas ao sonho.) MMM -marreco, mandioca e manga. Para minha alegria, tenho muita taioba no quintal e posso fazer todo dia taioba com caviar. O caviar? Bom, creminho de taioba só também é legal. Demais mesmo é o risoto líquido com shoyu. Essa receita não experimentei nem em casa, nem no D.O.M. com medo de me decepcionar. Coxinha líquida com Catupiry.
Será alguma coisa parecida com frango à kiev? Pelo retrato, não. A coxinha linda, igual as de padaria e o queijinho do lado. E, prometo, essa é a última. O nome? QQQ, Quiabo, quiabo, quiabo.
Ah, esse Atala está um azougue!!! Um manual muito sério acompanhado de receitas muito dele. Era o que eu queria.

ninahorta@uol.com.br



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