São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2000

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Braz monta "Beijo no Asfalto"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Beijo no Asfalto" (1960), uma das peças em que Nelson Rodrigues mais se ancora no conhecimento da seara jornalística, ganha montagem do grupo Círculo de Comediantes, dirigido por Marco Antônio Braz. Para lembrar os 20 anos de morte do autor, haverá ensaios abertos do espetáculo de hoje a sábado, no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, em São Paulo.
Em sua quinta montagem do autor, nos últimos seis anos, sempre com o grupo de repertório Círculo de Comediantes, Braz volta ao texto que montou na sua conclusão do curso de direção na Universidade do Rio de Janeiro (UniRio), em 91.
Ele lembra que a tragédia carioca foi uma encomenda de Fernanda Montenegro. Nelson a escreveu em 21 dias, inspirado na história de um repórter de "O Globo", Pereira Rego, que fora atropelado por um ônibus no largo da Carioca. Ao ver-se no chão, na iminência da morte, Rego pedira um beijo a uma jovem que se debruçara para socorrê-lo.
Na peça de Nelson, o atropelado pede o beijo a um homem chamado Arandir. Um repórter do jornal "Última Hora", Amado Ribeiro, presencia tudo e, em conluio com o delegado, transforma o episódio em escândalo. Arandir é perseguido por sua suposta homossexualidade.
"Ribeiro é um dos personagens mitológicos de Nelson, no qual ele expõe uma das falhas cruciais do jornalismo: a falta de ética", afirma Braz. Na sua concepção, "Beijo no Asfalto" é um ritual, uma reflexão sobre a morte. O palco de arena vai servir de metáfora da roda de curiosos em torno do morto no asfalto, sujeito oculto que irá pontuar toda a história.
A partir de fevereiro, o Círculo de Comediantes reveza no Eugênio Kusnet "Beijo no Asfalto" (qui. e sex.) e "Bonitinha, mas Ordinária" (sáb. e dom.). No segundo semestre, será a vez da dobradinha "A Falecida" e "Dorotéia".
Outro pesquisador contumaz da obra de Nelson Rodrigues, o diretor Luiz Arthur Nunes está em cartaz no Rio com "A Mulher sem Pecado" (1941), a primeira peça do dramaturgo. No ano passado, ele montou "O Correio Sentimental de Nelson Rodrigues", baseado na coluna "Myrna Escreve", pseudônimo que o dramaturgo usou em 1949 no jornal "Diário da Noite".
"Nelson é dono de universo ficcional vastíssimo", diz Nunes, 54. Sobre o "eterno retorno", tem uma teoria: "De certa forma, ele me lembra o poeta português Fernando Pessoa e seus heterônimos, de quem se está sempre descobrindo alguma coisa". (VS)



Peça: Beijo no Asfalto
Texto: Nelson Rodrigues
Direção: Marco Antônio Braz
Com: Círculo de Comediantes (Maurício Barros, Edmilson Cordeiro, Walter Portela, Tamayo de Faria e outros)
Quando: ensaios abertos de hoje a sábado, sempre às 21h
Onde: Teatro de Arena Eugênio Kusnet (r. Teodoro Baima, 94, região central, tel. 0/xx/11/256-9463)
Quanto: entrada franca



Peça: A Mulher sem Pecado
Texto: Nelson Rodrigues
Direção: Luiz Arthur Nunes
Com: José de Abreu, Luciana Braga, Vanda Lacerda, Daniele Montes e outros
Quando: reestréia dia 5/1; de qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h
Onde: teatro Leblon - sala Fernanda Montenegro (r. Conde de Bernadote, 26, tel. 0/xx/21/274-3536)
Quanto: R$ 20 e R$ 25 (sáb.)





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