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LIVRO
Pensadores brasileiros e estrangeiros mesclam recortes histórico, político e estético na abordagem das artes cênicas
Lançamento coloca a história do teatro em discussão
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o filósofo e professor Gerd
Bornheim (1929-2002), "Romeu e
Julieta" não é uma peça sobre dois
apaixonados adolescentes, uma
redução recorrente neste e no século passado, "mas sim sobre a
briga de duas famílias da aristocracia, os Capuleto e os Montecchio, luta que põe em risco a paz
na cidade, e que conduz a uma
triste lição: a da perda dos filhos".
O comentário, que discorre sobre as vias políticas em Shakespeare, consta da palestra de Bornheim na abertura do seminário
"O Teatro e a Cidade", que aconteceu no Centro Cultural São Paulo entre os dias 8 e 31 de outubro
de 2001.
A fala do filósofo junta-se ao coro de outros 13 pensadores, brasileiros e estrangeiros, nas 300 páginas do livro "O Teatro e a Cidade,
Lições de História do Teatro", que
o Departamento de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura lança hoje na Galeria Olido.
As vozes internacionais são as
do italiano Roberto Tessari (que
falou sobre o renascimento e a
commedia dellarte), do pesquisador polonês Michal Kobialka
(teatro medieval), do diretor e
dramaturgista alemão Wolfgang
Storch (o teatro político da República de Weimar) e do professor
americano Michael Denning (teatro e política nos EUA). Ainda entre os representantes de fora do
país, integram o livro o dramaturgo inglês Edward Bond (o teatro
atual), o dramaturgo, diretor e
pesquisador francês Jean-Pierre
Sarrazac (realismo e encenação
moderna no trabalho de André
Antoine) e a pesquisadora russa
Elena Vássina -esta radicada no
Brasil-, que comenta o teatro
russo moderno e seu público.
Para dar o tom da obra, uma assertiva de Tessari: "Hoje, mesmo
laico, o teatro é, potencialmente, o
espaço onde a cidade poderia fazer sua "kátharsis", essa ação purificatória de expor o que deve ser
separado para melhor compreendê-lo e ajuizar a respeito. Porém,
dificilmente o faz. A encenação
teatral, apesar de fundamentalmente cívica, incorporou bem
mais o sentido estrito do divertimento e adequou-se aos cânones
das belas-artes, numa exteriorização que costuma obrigar a separação do ético e do político, no rigor
dos termos. O teatro hoje poucas
vezes mostra plena consciência de
seu poder em nossos dias excessivamente técnicos".
São pontos de vista que encerram inquietação histórica, reflexão crítica, imaginação estética e
questionamento quanto à função
social do teatro.
Também deram corpo ao ciclo
brasileiros como Rachel Gazzola
(sobre o teatro grego), João Roberto Faria (teatros nacionais e
sociedades burguesas), Tania
Brandão (teatro brasileiro moderno e a representação da sociedade), Iná Camargo Costa (o teatro político entre nós) e Augusto
Boal (o teatro popular no Brasil).
A organização do livro é de Sérgio
de Carvalho, da Companhia do
Latão.
Na mesma ocasião, serão lançadas duas brochuras com registros
dos programas Formação de Público (700 mil pessoas em 2004) e
Teatro Vocacional (acompanhamento de cerca de cem grupos de
teatro amador, ou vocacional).
O TEATRO E A CIDADE, LIÇÕES DE
HISTÓRIA DO TEATRO. 300 págs.,
Secretaria Municipal da Cultura,
tiragem de 1.200 exemplares.
FORMAÇÃO DE PÚBLICO. 56 págs.,
3.000 exemplares. TEATRO
VOCACIONAL. 64 págs., 800 exemplares.
LANÇAMENTO. Hoje, às 19h30, na
Galeria Olido - sala Olido (av. São João,
473, Centro). Os livros serão distribuídos
a bibliotecas, centros culturais e
entidades ligadas às artes cênicas.
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