|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Baryshnikov estréia espetáculo em NY
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Hoje à noite, no palco do City
Center, em Nova York, Mikhail
Baryshnikov promete mostrar que
ainda consegue magnetizar o público às vésperas dos 50 anos, que
completa no próximo dia 27.
A temporada, que se encerra no
próximo domingo, é mais um momento marcante na carreira de
Misha, que em 1974 trocou a antiga
União Soviética pelo Ocidente para se tornar um popstar do balé.
Mais uma vez, Baryshnikov demonstra atração por desafios. Colocando o fôlego à prova, apresenta-se sozinho, dançando no mesmo programa quatro coreografias
de autores contemporâneos.
Considerando seu desempenho
nos últimos anos, é certo que o público verá um Baryshnikov ainda
mais completo do que o impetuoso bailarino que nas décadas de 70
e 80 eletrizou o mundo.
Ao contrário de estrelas como
Nureyev, que aos 50 anos insistia
em interpretar papéis apropriados
para jovens, Baryshnikov atingiu a
maturidade com sabedoria.
Desde que abandonou a direção
artística do American Ballet Theater, a importante companhia nova-iorquina que comandou de
1980 a 89, vem interpretando balés
feitos para ele, por coreógrafos que
sabem ir muito além da técnica.
Criadores como Twyla Tharp
vêm explorando em Misha uma
densidade que ele ganhou com o
tempo e que faz dele, hoje, um intérprete ainda mais rico.
"Na primeira parte da vida acumula-se experiência. Depois,
quando começamos a nos aproximar do fim, é preciso saber se livrar do que não é necessário", declarou recentemente.
A convite do Teatro Municipal
do Rio de Janeiro, Baryshnikov
pode apresentar no Brasil em outubro o mesmo programa em cartaz no City Center. Mas, segundo
Sandra Chaves, assessora da Secretaria de Estado da Cultura e Esporte do Rio, a temporada brasileira
ainda não foi confirmada.
No programa que estréia hoje, a
obra central é "Heartbeat: MB",
que permite ao público ouvir as
batidas do coração do bailarino.
Isso se torna possível por intermédio de um aparelho elétrico
sem fio, que ele utiliza no peito.
Tal dispositivo foi criado por
Christopher Janney, músico e arquiteto conhecido por suas esculturas sonoras. A coreografia é de
Sara Rudner, ex-bailarina solista
do grupo de Twyla Tharp.
No entanto, Sara afirmou ao jornal "The New York Times" que
Baryshnikov é co-autor da coreografia. "Essa peça foi criada a partir de improvisações de Misha, que
reagia ao som de seu coração, cujo
ritmo serviu quase como uma partitura musical", ela explica.
Murmúrios gravados eletronicamente e o Adágio do "Quarteto
para Cordas", de Samuel Barber,
também integram a trilha sonora
de "Heartbeat: MB", que, segundo Baryshnikov, inclui a mortalidade em seu subtexto.
Essa conotação vem da perda recente de três amigos de Baryshnikov: o escritor russo Joseph
Brodsky, a cantora francesa de cabaré Barbara e empresário e mecenas Howard Gilman, que vinha patrocinando o White Oak Dance
Project, grupo fundado pelo bailarino em 1990, com Mark Morris.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|