São Paulo, quarta, 21 de janeiro de 1998.



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Baryshnikov estréia espetáculo em NY

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

Hoje à noite, no palco do City Center, em Nova York, Mikhail Baryshnikov promete mostrar que ainda consegue magnetizar o público às vésperas dos 50 anos, que completa no próximo dia 27.
A temporada, que se encerra no próximo domingo, é mais um momento marcante na carreira de Misha, que em 1974 trocou a antiga União Soviética pelo Ocidente para se tornar um popstar do balé.
Mais uma vez, Baryshnikov demonstra atração por desafios. Colocando o fôlego à prova, apresenta-se sozinho, dançando no mesmo programa quatro coreografias de autores contemporâneos.
Considerando seu desempenho nos últimos anos, é certo que o público verá um Baryshnikov ainda mais completo do que o impetuoso bailarino que nas décadas de 70 e 80 eletrizou o mundo.
Ao contrário de estrelas como Nureyev, que aos 50 anos insistia em interpretar papéis apropriados para jovens, Baryshnikov atingiu a maturidade com sabedoria.
Desde que abandonou a direção artística do American Ballet Theater, a importante companhia nova-iorquina que comandou de 1980 a 89, vem interpretando balés feitos para ele, por coreógrafos que sabem ir muito além da técnica.
Criadores como Twyla Tharp vêm explorando em Misha uma densidade que ele ganhou com o tempo e que faz dele, hoje, um intérprete ainda mais rico.
"Na primeira parte da vida acumula-se experiência. Depois, quando começamos a nos aproximar do fim, é preciso saber se livrar do que não é necessário", declarou recentemente.
A convite do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Baryshnikov pode apresentar no Brasil em outubro o mesmo programa em cartaz no City Center. Mas, segundo Sandra Chaves, assessora da Secretaria de Estado da Cultura e Esporte do Rio, a temporada brasileira ainda não foi confirmada.
No programa que estréia hoje, a obra central é "Heartbeat: MB", que permite ao público ouvir as batidas do coração do bailarino.
Isso se torna possível por intermédio de um aparelho elétrico sem fio, que ele utiliza no peito.
Tal dispositivo foi criado por Christopher Janney, músico e arquiteto conhecido por suas esculturas sonoras. A coreografia é de Sara Rudner, ex-bailarina solista do grupo de Twyla Tharp.
No entanto, Sara afirmou ao jornal "The New York Times" que Baryshnikov é co-autor da coreografia. "Essa peça foi criada a partir de improvisações de Misha, que reagia ao som de seu coração, cujo ritmo serviu quase como uma partitura musical", ela explica.
Murmúrios gravados eletronicamente e o Adágio do "Quarteto para Cordas", de Samuel Barber, também integram a trilha sonora de "Heartbeat: MB", que, segundo Baryshnikov, inclui a mortalidade em seu subtexto.
Essa conotação vem da perda recente de três amigos de Baryshnikov: o escritor russo Joseph Brodsky, a cantora francesa de cabaré Barbara e empresário e mecenas Howard Gilman, que vinha patrocinando o White Oak Dance Project, grupo fundado pelo bailarino em 1990, com Mark Morris.



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