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Gaitista busca rastros da Galícia no Brasil e fala hoje em São Paulo
Carlos Núñez fez pesquisas musicais na Bahia junto a imigrantes galegos
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
A gaita de fole foi o primeiro
instrumento europeu a desembarcar no Brasil. É o que conta
Pero Vaz de Caminha, membro
da frota de Pedro Álvares Cabral responsável pela famosa
carta destinada ao rei de Portugal, em que relatava como eram
as terras recém-descobertas.
Caminha conta como Diogo
Dias, experiente integrante do
grupo, aproximara-se dos índios brasileiros, levando consigo um gaiteiro que vinha a bordo. "E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e
eles folgavam e riam e andavam
com ele ao som da gaita."
Quinhentos e oito anos depois, um dos mais famosos gaiteiros do mundo volta a desembarcar na Bahia. O galego Carlos Núñez, 36, nascido em Vigo,
é um sonhador, obcecado em
buscar, nos territórios que formavam a "Grande Galícia", traços em comum dentre as transformações que a música tradicional galega adquiriu nos vários países em que foi dividida.
Seu trabalho -que conta
com sete álbuns que galgam as
listas de mais vendidos na Espanha- busca o fio condutor
entre as sonoridades que hoje
sobrevivem no noroeste da
França -a terra do personagem Asterix-, na Irlanda, na
Escócia e no noroeste de Espanha e Portugal, onde a cultura
celta se misturou à paisagem
local.
Núñez está há algumas semanas no Brasil, buscando o
que frutificou daquele longínquo contato entre a gaita que
veio a bordo das naus portuguesas e a nossa cultura.
"O Brasil nordestino tem
nostalgia de um sertão medieval, e nisso lembra a Espanha.
Este sonho é uma imagem da Galícia do passado que se estabeleceu aqui", diz, em entrevista à Folha, por telefone, de Salvador, onde fez pesquisas.
Começou visitando o veterano violeiro e compositor Elomar. Depois foi conhecer idosos galegos no Hospital Espanhol da cidade. Encheu de lágrimas os olhos dos imigrantes,
que evocaram imagens de uma
Galícia há muito deixada atrás.
"Alguns já não podem nem
mais falar, mas lembravam das
músicas, reconheceram como
parte de sua história, com nostalgia e carinho", conta Núñez.
O artista dá hoje uma palestra no Instituto Cervantes de
São Paulo. Pouco conhecido no
Brasil, a aproximação mais recente ocorreu quando foi exibido aqui "Mar Adentro" (2004),
de Alejandro Amenábar. O longa, que conta a história verídica
de Ramon Sampedro, um tetraplégico que lutou anos para
que lhe fosse dado o direito legal ao suicídio, tem imensa participação de Núñez.
É possível assistir a apresentações de Núñez pelo YouTube. Quem acha que verá um sisudo artista erudito se surpreenderá. Seus shows são vibrantes e voltados a grandes
públicos, com guitarras, baixo e
baterias que não devem nada a
qualquer conjunto de pop e
rock.
CARLOS NÚÑEZ
Quando: hoje, às 20h
Onde: auditório do Instituto Cervantes
(av. Paulista, 2.439/7º andar)
Quanto: entrada franca
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