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Cavalera leva beleza para as margens do rio Tietê
Desfile marcou a estréia de Marcelo Sommer na direção criativa da grife
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Cavalera escolheu um dos
lugares mais tristes, feios e mal
cheirosos de São Paulo para
desfilar a sua coleção do inverno-2008. A grife levou os modelos e a imprensa para as margens do rio Tietê, na zona norte
da cidade.
O desfile foi ao mesmo tempo
um protesto contra a poluição
do rio, onde são despejados diariamente três bilhões de litros
de esgoto, sem falar na poluição
industrial.
A imprensa se instalou num
barco à beira do rio, enquanto
os modelos se apresentavam na
margem, debaixo de uma chuva
rala, pisoteando a lama que se
formava no local. Ao fundo,
uma das pontes cinzentas que
cruzam o Tietê e celeiros industriais que mais pareciam
usinas nucleares.
Um apito de alarme de guerra deu início ao desfile, os modelos desceram por uma escada
de ferro gigante rumo à margem, e a apresentação transcorreu sem música, tendo como
fundo sonoro apenas o barulho
dos carros e caminhões que
cruzavam a Marginal Tietê.
Visual sombrio
Difícil imaginar que desse cenário desolado poderia emergir
alguma beleza, o que tornou
ainda mais interessante a aparição dos modelos da Cavalera.
A apresentação marcou a estréia do estilista Marcelo Sommer na direção criativa da grife
e já conquistou lugar de destaque nesta edição da São Paulo
Fashion Week.
Das margens do rio fétido,
emergiu um grupo de garotos e
garotas com visual sombrio,
que pareciam sobreviventes de
uma guerra química ou de um
desastre nuclear ("Lembrem-se de Chernobyl" foi um dos
slogans da coleção).
Nem as roupas desse pequeno exército de sobreviventes
saíram impunes ao fator mutante imaginado por Sommer:
camisas gigantes, mangas nas
costas, fechos fora de lugar, capuzes no ombro e golas em cascata formando vestidos foram
algumas das propostas apresentadas no desfile.
Desconstrução
O trabalho de desconstrução,
muito bem realizado, ecoava
referências da Comme des Garçons, sobretudo as coleções primavera-verão e outono-inverno 2006.
As formas dominantes foram
as longas e amplas, nos vestidões femininos, e levemente
ajustadas para os garotos.
Na parte masculina, com
"looks" cheios de boas peças
avulsas, os "casacos-casulo" e
as camisas estendidas, que se
transformam em casacos, deram muito certo.
A cartela de cores, muito coerente com o conceito da coleção, apostou em combinações
algo mórbidas, com verdes, beges e marrons enlameados e
tons nada iluminados de amarelo e de laranja.
O xadrez, grande tendência
da temporada e estrela do repertório criativo de Sommer
desde o início de sua carreira,
também apareceu com força.
Foi um passo importante para a Cavalera, que nas últimas
temporadas parecia muito desgovernada do ponto de vista
criativo.
Com peças mais comerciais,
espera-se que, desta vez, a coleção completa mostrada no desfile chegue às lojas da grife.
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