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Fashionistas põem pé na lama
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
"De onde é a sua galocha?" A
pergunta foi ouvida muitas vezes ontem no meio de um grupo de cerca de 200 pessoas, a
maioria trajando capas de chuva amarela, que se concentrou
em frente ao hotel Holliday
Inn, na zona norte de São Paulo, no meio da chuva.
Motivo da concentração:
partir em um ônibus em direção ao barco Almirante do Lago, parado nas margens do rio
Tietê, local onde foi realizado o
desfile da grife Cavalera.
A situação inusitada de subir
na superfície do rio mais poluído da cidade provocou, além de
um desfile de galochas de grife,
medo em alguns. "Eu acho que
vim aqui porque sou insana",
disse a jornalista inglesa Diane
Pernet, antes de subir ao barco,
com a máscara tipo cirúrgica
oferecida pela grife. Diane sentiu enjôos no final do desfile.
Os convidados que enfiaram
o pé na lama tiveram que assinar um termo de responsabilidade sobre possíveis problemas
de saúde, mas mantiveram o
bom humor (pouquíssimos
apelaram para as máscaras).
A estilista Thaís Losso não só
deixou a máscara de lado como
também abriu mão da capa
amarela distribuída pela grife.
"Sou a favor de sentir o cheiro.
Quero mais é saber como é o
cheiro da cidade onde eu moro", disse ela.
Thaís se preparava animada
para fazer o passeio completo
de barco pela Marginal do Tietê, um "brinde" que seria oferecido pela grife para os convidados após o desfile.
O plano foi abortado não só
pela falta de interessados, mas
por um fator prático. O excesso
de poluição no rio fez com que a
navegação ficasse impossível,
já que o lixo poderia quebrar a
hélice do barco.
O apresentador Marcos
Mion também subiu no barco
sem receio. "Acho que esse é
um manifesto importante, a
gente tem mesmo que tomar
contato e saber como é a poluição da nossa cidade", disse
Mion, que acaba de virar sócio
da marca V.Rom.
Entre a equipe que participou do desfile, o clima era mais
relaxado do que nos lotados camarins da SPFW. "Ensaiamos
três vezes, desde 8h, e não sentimos nada, o cheiro é meio
ruim, mas é igual ao que você
sente quando passa de carro
por aqui", comentou a modelo
Gabriela Stein, 16, que, durante
o desfile, desceu por uma escada que fica na margem do rio.
"Deu uma pontinha de medo
de cair direto no Tietê, mas nada sério, adorei", disse ela, sentada em um banco de madeira
como se estivesse em uma
praia, enquanto mostrava a
parte de baixo do vestido encharcado de lama.
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