São Paulo, sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

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Em meio a crise, lojas vivem dos nichos

Redes como Livraria Cultura e 2001 Vídeo continuam crescendo ao trocar campeões de venda por "micro-hits"

"A loja serve para tudo, menos para vender produto", diz diretor da Livraria Cultura; café é isca fundamental

DE SÃO PAULO

"Há oito anos, se me perguntassem se ainda estaríamos vendendo CDs hoje, eu provavelmente diria que não." A frase de Fábio Herz, diretor de marketing da Livraria Cultura, espelha o sentimento de fim iminente que paira sobre o mercado cultural desde que a tecnologia desmaterializou músicas, filmes e livros.
Não foram poucas as empresas atingidas pela mudança. Entre 2006 e 2009, o mercado de locação de vídeo e DVD caiu pela metade no Brasil. Estima-se que, nos últimos cinco anos, pelo menos 4.000 videolocadoras tenham fechado as portas.
Mas houve também quem crescesse em meio à terra arrasada. Foi esse o caso da Livraria Cultura. E da 2001 Vídeo, que abriu ontem, nos Jardins, sua mais nova loja.
E o que faz o consumidor, que pode não só baixar, mas também comprar produtos culturais pela internet, ir até uma loja ou uma locadora? "Hoje, a loja serve para tudo, menos para vender produto", responde Herz.
Na nova loja da 2001, o "fator café" será tratado com esmero. "Nosso foco não é vender café, mas fomos procurar o melhor para o espaço wi-fi", diz Sônia de Abreu, sócia da rede. "O cliente busca interlocução e convivência."
A rede, segundo Abreu, teve um crescimento de 10% na locação no ano passado.
O filme mais alugado em 2010 foi "Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino, e o mais vendido foi "Pat Garrett e Billy the Kid" (1973), de Sam Peckinpah, lançado com exclusividade pela rede. Já o campeão geral de locação dos últimos anos é a trilogia "O Poderoso Chefão", de Francis Ford Coppola.
Isso significa que a tese desenvolvida por Chris Andersen, editor-chefe da "Wired", no livro "A Cauda Longa", pensada para o mundo digital, expandiu-se para o mundo físico: "A indústria do entretenimento do século 20 foi a indústria dos hits; a do século 21 será a dos nichos". Aquilo que Andersen chama de "micro-hits" está na base de todo negócio "real" que ainda dá certo.
"O mercado em crise é aquele focado no best-seller. O consumidor que vem à loja procura um catálogo diferente", diz Herz. Segundo ele, a venda de CDs responde, ainda, por 8% do faturamento. A de DVDs, por 14%.
Foi esse mesmo raciocínio que segurou a indústria do disco físico -e lojas como a Modern Sound, no Rio- até agora. Lojas e gravadoras começaram a apostar nos nichos: relançamentos de catálogo histórico, caixas com discografias completa de artistas de maior prestígio.
A Modern Sound, porém, não resistiu à virada da década. Fechou em dezembro de 2010. Por quantos anos o cafezinho ainda segurará as lojas de DVDs?
(ANA PAULA SOUSA e MARCUS PRETO)


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