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"DE QUE AMANHÃ... DIÁLOGO"/CRÍTICA
Derrida investiga a desconstrução contemporânea
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A viva voz, com gravador para registrar a conversa entre
dois notáveis intelectuais franceses: Jacques Derrida, o filósofo da
desconstrução, e Elisabeth Roudinesco, a desbundada historiadora
da psicanálise.
Feliz iniciativa, essa, de fazer um
livro com a palavra oral e na base
do diálogo, porque facilita a compreensão do pensamento de Derrida, que, não raro, deixa o leitor
boiando no que escreve, tal como
acontece com a maioria dos intelectuais franceses da atualidade.
Hoje já se tornou um lugar-comum o uso (vide as nossas propagandas eleitorais) da palavra
"desconstrução", que foi lançada
por Derrida em meados dos anos
60. Tomado do léxico da arquitetura, desconstrução significa decompor ou desfazer um sistema
de pensamento dominante. É,
com outra roupagem lingüística,
aquilo que o velho Karl Marx
(1818-1883) denominava crítica,
ou seja, a anatomia analítica que
disseca as coisas e o espírito das
coisas.
O livro "De que Amanhã... Diálogo" revela o excelente professor
que deve ser Derrida, cuja fala discorre sobre pena de morte como o
problema fundamental do direito
e da filosofia, a obsessão pelo cigarro e o assédio sexual nos Estados Unidos, a paranóia repressiva
em torno da sedução entre professor e aluno, os psicanalistas homossexuais na França, o fetiche
do computador correspondente à
utilização dos remédios psicoativos, a violência contra os animais,
o fracasso do comunismo e a necessidade da revolução, assim como a desmistificação da idéia
(moda corrente na década de 70)
de que o Gulag carcerário já estivesse embutido na obra de Karl
Marx.
O ponto alto desse diálogo
acontece quando se aborda a comida contaminada na sociedade
contemporânea. O consumo de
carne nunca foi uma necessidade
biológica, embora sem enveredar
pela mistificação do vegetarianismo; afinal de contas, Adolf Hitler
era vegetariano. Hoje a péssima
comida americana é a globalização agroalimentar representada
pelos restaurantes McDonald's.
Lembrei-me do saudoso médico
mineiro José Róiz, autor do corajoso opúsculo "Esporte Mata",
que alertava: a vaca louca vai levar
mais gente para o tombo que a
Aids.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor de ciências sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e autor de "A Salvação da Lavoura" (ed. Casa
Amarela)
De que Amanhã... Diálogo
Autor: Jacques Derrida e Elisabeth
Roudinesco
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 39 (239 págs.)
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