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INTERNET
Falha técnica do site canadense dura uma semana e põe em xeque a legitimidade das críticas e resenhas de livros
Quem critica os livros da Amazon.com?
AMY HARMON
DO "NEW YORK TIMES"
Os observadores mais atentos
da Amazon.com perceberam algo
de peculiar nos últimos dias. O site canadense da empresa revelou
a identidade de milhares de pessoas que haviam postado resenhas de livros anonimamente nos
Estados Unidos, sob assinaturas
como "um leitor de Nova York".
O defeito durou uma semana e foi
consertado depois que os resenhistas expostos se queixaram à
Amazon.
Isso ofereceu um raro vislumbre da forma pela qual escritores e
leitores vêm brandindo as resenhas online como ferramenta para promover ou detonar um livro
quando acham que não há ninguém olhando.
John Rechy, laureado com um
prêmio do Pen Club dos Estados
Unidos por sua carreira e autor de
"City of Night" ["Cidade da Noite"], um romance de sucesso publicado em 1963, foi um dos diversos escritores famosos que aparentemente se deram resenhas
cinco estrelas, a maior nota na
classificação da Amazon, escrevendo sob pseudônimo.
Rechy, que riu da questão quando procurado, encara a prática
como uma forma de sobreviver
em uma era na qual estrelas em
um site de venda online de livros
podem significar vendas.
"Para mim é absurdo que qualquer pessoa possa entrar no site e
detonar um livro anonimamente", disse Rechy, que depois de
apanhado em flagrante admitiu
francamente ter elogiado "The Life and Adventures of Lyle Clemens" ("A Vida e as Aventuras de
Lyle Clemens"), seu novo romance, no site da Amazon, assinando
como "um leitor de Chicago".
"Como contra-atacar essas críticas? Entrando no site e rebatendo
cada uma delas."
Rechy está em boa companhia.
Walt Whitman e Anthony Burgess notoriamente resenharam
seus livros sob nomes supostos.
Mas diversos escritores atuais dizem que a internet, onde qualquer
um, de sua mãe ao seu ex-agente,
pode expressar opinião sobre o
trabalho de um autor, criou uma
necessidade mais urgente de autodefesa.
Sob o sistema da Amazon, qualquer usuário do site pode submeter uma resenha, sem oferecer publicamente qualquer informação
pessoal (ou prova de ter lido o livro). A divulgação acidental do
nome real dos resenhistas pelo site canadense serviu para muita
gente como lembrete de que o
anonimato está longe de garantido na internet.
"Foi um erro lastimável", disse
Patricia Smith, porta-voz da
Amazon. "Examinaremos o que
aconteceu e garantiremos que isso não vai voltar a ocorrer."
À medida que os sites da Amazon se expandem, os visitantes ganham mais e mais importância.
Mark Moskowitz, um cineasta independente, enviou uma mensagem de e-mail a três mil pessoas
na semana passada pedindo que
resenhassem o DVD de seu filme
"Stone Reader" ("Leitor de Pedras"), que entra no mercado na
semana que vem.
"Se vocês não o assistiram mas
ouviram dizer que é bom, publiquem mensagens mesmo assim",
pediu Moskowitz. "Isso não os
compromete em nada, e dizer a
verdade é relativo."
Essas recomendações de pessoa
a pessoa são vistas em geral como
positivas pelos consumidores,
que não dependem mais de críticos privilegiados com acesso a câmeras de TV ou às páginas de jornais e revistas para divulgar suas
opiniões.
No final do mês passado, em seu
programa de entrevistas no rádio,
a dra. Laura Schlessinger usou
uma ligação sobre uma carta anônima para exprimir sua insatisfação com alguns dos resenhistas da
Amazon, que ela classificou como
"gente grotesca e esquisita".
Para aumentar a credibilidade
das resenhas de seus leitores, a
Amazon lançou meios para que
os usuários votem na qualidade
das resenhas, e criou um ranking
com os mil melhores resenhistas.
Mas os resenhistas prolíficos especulam que Harriet Klausner,
55, há muito a líder do ranking,
não poderia ter lido todos os livros que resenha. Em entrevista
por telefone, Klausner, por sua
vez, acusou o segundo colocado
da lista de pedir votos a outras
pessoas, "em uma tentativa desesperada de chegar ao topo".
Tradução Paulo Migliacci
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