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POLÍTICA DO ROCK
Artistas nacionais ouvidos pela Folha analisam importância das megabandas para os grupos brasileiros
Músicos discutem influência de U2 e Stones
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
O U2 é nome que arrasta milhares de fãs a seus shows brasileiros,
motivo para suportar horas e horas em filas e enfrentar congestionamentos telefônicos. Mas sua
música não é tão sentida como influência nas bandas de rock nacional.
A premissa surgiu a partir de
uma comparação simples com os
Rolling Stones, que parecem exercer muito mais influência na música jovem feita por aqui. Para
conferir essa impressão, a Ilustrada ouviu algumas das principais
figuras do pop brasileiro. E... bem,
a maioria discordou.
Em seus comentários, grande
parte dos músicos afirmou que,
sim, o U2 pode ser considerado
como influência de várias bandas
roqueiras brasileiras. Mas, no
momento de citar quais os grupos
que beberam na fonte dos irlandeses, apenas um nome apareceu:
a Legião Urbana.
"Discordo que o U2 não influencie bandas brasileiras", afirmou Tony Bellotto, guitarrista
dos Titãs, que abriu o show dos
Rolling Stones na praia de Copacabana, no Rio, enfrentado alguns
problemas com o som na noite de
sábado. "Nos anos 80, quando
surgiu, o U2 influenciou muita
gente do rock no Brasil, aí incluída a Legião Urbana, por exemplo.
Mas desde o início dos anos 90
acho que nem Stones nem U2 influenciem muita gente."
Na comparação U2/Rolling Stones, os últimos saem ganhando
porque fariam um rock mais universal, digerível e com referências
mais claras; uma influência mais
fácil de ser assimilada.
"O som dos Stones é atemporal,
por mais que possa parecer o contrário. "Satisfaction", que é dos
anos 60, ainda tem uma sonoridade interessante", afirma Edgard
Scandurra, guitarrista do Ira!.
"Respeito o U2, mas acho que é
um grupo que remete muito aos
anos 80, enquanto os Stones remetem à vida toda. Existe uma diferença absurda de importância
histórica de uma banda e outra. O
U2 é uma banda pós-punk, enquanto os Stones são a maior banda do mundo."
"Talvez os Stones tenham influenciado mais bandas no rock
brasileiro porque estão há mais
tempo na estrada. Além disso,
suas próprias influências são, de
certa forma, mais comuns: o blues
e o rock dos anos 50. O trabalho
do U2 é mais difícil de definir e,
portanto, de imitar. Canções irlandesas, Beatles, o toque único
da guitarra do The Edge, ritmos
marciais, experimentações eletrônicas e rock se misturam numa alquimia complexa e difícil de ser
alcançada por iniciantes incautos", opina Bellotto.
Dinho, o vocalista do Capital
Inicial, concorda em parte com a
idéia de que os Stones são mais
ouvidos dentro do rock nacional.
"Se falarmos de números absolutos, concordo. Mas especificamente na nossa geração, o U2 foi
mais influente. Você vê nos primeiros discos da Legião Urbana
uma influência evidente dos
Smiths e do U2. Mas isso talvez seja uma coisa peculiar de Brasília.
Lá não ouvíamos Stones. Ouvíamos metal, Sabbath, Zeppelin. De
lá passamos para o punk. Fui ouvir Stones quando já era adulto",
conta.
Para Dinho, no entanto, nem
Stones nem U2 foram nomes fundamentais. "Quando começamos, os Stones eram leves demais.
Depois, os punks se referiam aos
Stones como Strolling Bones (ossos andantes). Os Stones eram velhos... Mas, hoje, é uma das poucas bandas de rock das quais tenho quase tudo. Mas para nossa
formação musical, os Stones foram irrelevantes."
Velha-guarda
A influência dos Stones no rock
brasileiro foi sentida, de acordo
com João Barone, baterista dos
Paralamas do Sucesso, pela turma
anterior à geração 80.
"O U2 foi, sim, referência forte a
partir dos 80. Como exemplo, temos a maior e mais popular banda de rock brasileira de todos os
tempos, a Legião Urbana, que tinha fortes pinceladas do U2 em
sua música. Quanto aos Stones, a
turma da "velha-guarda" do rock
nacional, como Mutantes, Raul,
Rita e mais tarde Lulu e Barão
-ainda com Cazuza- foram os
que mais beberam dessa fonte.
Talvez fosse apenas uma questão
de momento, pré-anos 80, o fato
desta turma ter se influenciado
pelos Rolling Stones. Afinal, eles
estão aí faz tempo, tocaram até na
última ceia..."
Sempre que se fala em Stones no
rock nacional, lembra-se de Barão
Vermelho. Guto Goffi, o baterista
da banda, acha que são dos poucos que carregam essa tocha.
"Poucas bandas brasileiras foram
influenciadas pelos Stones: Rita,
Mutantes, Raul. Da geração 80, só
o Barão teve essa influência de
Stones, do blues. As bandas brasileiras da época foram mais para o
punk rock. O U2 tem um som
particular, um letrista muito bom
e a música é uma moldura boa para aquele texto. É uma coisa da Irlanda, o The Edge tem um jeito de
tocar... Sempre que alguém tenta
imitá-los, se ferra."
Olimpíadas e Panamericano
E o que acha Dado Villa-Lobos,
guitarrista da hoje extinta Legião
Urbana, sobre o fato de o U2 ter
influenciado sua banda? "Os Stones formam grande parte da cadeia de DNA; genética e fenótipo
do rock mundial. São como as
Olimpíadas: aparecem de quatro
em quatro anos, e você vai ter que
comparecer, não dá para perder.
O U2? É tipo um Panamericano..."
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