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MÚSICA
Filmes terão 1ª exibição hoje na capital fluminense
Documentários homenageiam personagens do Carnaval do Rio
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Figuras marcantes dos subúrbios cariocas, mas pouco conhecidos fora do Rio, os "Clóvis" (ou
"bate-bolas") são personagens de
"Carnaval, Bexiga, Funk e Sombrinha", documentário que tem
pré-estréia hoje no Rio (Unibanco
Arteplex, às 21h30) e entra em circuito sexta-feira -em São Paulo,
será exibido diariamente, às 18h,
no Cine Bombril, dentro do projeto Folha Documenta.
A quatro dias do Carnaval, outro documentário será lançado
hoje no Rio: "Tia Eulália - O Império do Divino", sobre a fundadora do Império Serrano, tem exibição às 21h, na escola de samba,
em Madureira (zona norte).
Diretor de "Carnaval, Bexiga,
Funk e Sombrinha", Marcus Vinicius Faustini conhece por dentro os "Clóvis": na infância em
Santa Cruz (zona oeste), vestiu
várias vezes a fantasia, que consiste, basicamente, em uma roupa
que cobre todo o corpo, uma
máscara e, na mão, uma bexiga
(bola que faz barulho quando bate no chão) ou uma sombrinha.
Faustini acompanhou algumas
turmas de "Clóvis". São, em sua
maioria, adultos que passam o
ano preparando a fantasia, na
qual chegam a gastar R$ 1.500.
Existem cerca de cem grupos no
Rio, os maiores com até 80 pessoas.
"Eles usam ícones da sociedade
de consumo, como imagens do
Mickey e tênis Nike. Podem até
ser vistos como alienados, mas é a
maneira que eles encontram para
se reinventar, se expressar. Existe,
no subúrbio, uma subjetividade
menos caricata do que a gente
costuma mostrar", afirma Faustini, 34.
Diretor de teatro com vários espetáculos políticos no currículo,
Faustini diz ter evitado, no filme,
um "discurso totalizante, que
procure explicar tudo".
"Em alguns momentos eles [os
entrevistados] são contraditórios.
Procurei deixar as contradições,
para que o espectador avalie", diz.
Os integrantes das turmas negam, por exemplo, que ainda haja
conflitos entre elas, mas contam
algumas histórias de brigas. Há
grupos que estão deixando de sair
por causa da violência.
Embora o Carnaval esteja associado ao samba, nas turmas de
"Clóvis" o que se canta é funk. Em
depoimentos, os participantes falam dessa opção como algo absolutamente natural.
"Para eles, sair de "Clóvis" no
Carnaval é um rito de empolgação. E o que os empolga é o funk.
Mesmo nos concursos de fantasias da Cinelândia, quando tocam-se marchinhas, eles dançam
como se fosse funk", diz Faustini,
que pretende lançar também neste ano um documentário sobre
um adolescente que tenta incluir
"Nike" no próprio nome.
Tia Eulália
A vida do diretor também está
na origem de "Tia Eulália - O Império do Divino". Erik Cineasta,
35, nasceu em Madureira e morou
por 13 anos na subida do morro
da Serrinha, onde o Império Serrano foi criado em 1947, na casa
de Eulália de Oliveira.
"Sempre me interessei pela figura de tia Eulália. Acabei acompanhando os dois últimos anos e
meio da vida dela", diz Erik, que
incorporou ao nome o apelido
que ganhou na Serrinha.
Tia Eulália morreu em julho de
2005, aos 97 anos. No documentário, ela aparece subindo a escadaria do morro para mostrar onde
foi fundado o Império, na rua Balaiada. Segundo ela, nessa mesma
casa Silas de Oliveira completou
"Aquarela Brasileira", seu samba-enredo mais famoso.
"Fizemos 30 horas de entrevistas com pesquisadores. Mas optei
por estruturar o filme com as imagens de tia Eulália, inclusive em
seu último desfile, em 2004", explica Erik.
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