São Paulo, terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

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MÚSICA

Filmes terão 1ª exibição hoje na capital fluminense

Documentários homenageiam personagens do Carnaval do Rio

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Figuras marcantes dos subúrbios cariocas, mas pouco conhecidos fora do Rio, os "Clóvis" (ou "bate-bolas") são personagens de "Carnaval, Bexiga, Funk e Sombrinha", documentário que tem pré-estréia hoje no Rio (Unibanco Arteplex, às 21h30) e entra em circuito sexta-feira -em São Paulo, será exibido diariamente, às 18h, no Cine Bombril, dentro do projeto Folha Documenta.
A quatro dias do Carnaval, outro documentário será lançado hoje no Rio: "Tia Eulália - O Império do Divino", sobre a fundadora do Império Serrano, tem exibição às 21h, na escola de samba, em Madureira (zona norte).
Diretor de "Carnaval, Bexiga, Funk e Sombrinha", Marcus Vinicius Faustini conhece por dentro os "Clóvis": na infância em Santa Cruz (zona oeste), vestiu várias vezes a fantasia, que consiste, basicamente, em uma roupa que cobre todo o corpo, uma máscara e, na mão, uma bexiga (bola que faz barulho quando bate no chão) ou uma sombrinha.
Faustini acompanhou algumas turmas de "Clóvis". São, em sua maioria, adultos que passam o ano preparando a fantasia, na qual chegam a gastar R$ 1.500. Existem cerca de cem grupos no Rio, os maiores com até 80 pessoas.
"Eles usam ícones da sociedade de consumo, como imagens do Mickey e tênis Nike. Podem até ser vistos como alienados, mas é a maneira que eles encontram para se reinventar, se expressar. Existe, no subúrbio, uma subjetividade menos caricata do que a gente costuma mostrar", afirma Faustini, 34.
Diretor de teatro com vários espetáculos políticos no currículo, Faustini diz ter evitado, no filme, um "discurso totalizante, que procure explicar tudo".
"Em alguns momentos eles [os entrevistados] são contraditórios. Procurei deixar as contradições, para que o espectador avalie", diz.
Os integrantes das turmas negam, por exemplo, que ainda haja conflitos entre elas, mas contam algumas histórias de brigas. Há grupos que estão deixando de sair por causa da violência.
Embora o Carnaval esteja associado ao samba, nas turmas de "Clóvis" o que se canta é funk. Em depoimentos, os participantes falam dessa opção como algo absolutamente natural.
"Para eles, sair de "Clóvis" no Carnaval é um rito de empolgação. E o que os empolga é o funk. Mesmo nos concursos de fantasias da Cinelândia, quando tocam-se marchinhas, eles dançam como se fosse funk", diz Faustini, que pretende lançar também neste ano um documentário sobre um adolescente que tenta incluir "Nike" no próprio nome.

Tia Eulália
A vida do diretor também está na origem de "Tia Eulália - O Império do Divino". Erik Cineasta, 35, nasceu em Madureira e morou por 13 anos na subida do morro da Serrinha, onde o Império Serrano foi criado em 1947, na casa de Eulália de Oliveira.
"Sempre me interessei pela figura de tia Eulália. Acabei acompanhando os dois últimos anos e meio da vida dela", diz Erik, que incorporou ao nome o apelido que ganhou na Serrinha.
Tia Eulália morreu em julho de 2005, aos 97 anos. No documentário, ela aparece subindo a escadaria do morro para mostrar onde foi fundado o Império, na rua Balaiada. Segundo ela, nessa mesma casa Silas de Oliveira completou "Aquarela Brasileira", seu samba-enredo mais famoso.
"Fizemos 30 horas de entrevistas com pesquisadores. Mas optei por estruturar o filme com as imagens de tia Eulália, inclusive em seu último desfile, em 2004", explica Erik.


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