São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2009

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LIVROS

Jornalista analisa "seleção social" do sucesso pessoal

Para autor do best-seller "Fora de Série", crise derruba mito do indivíduo autossuficiente

Em casos de sucesso, de grandes esportistas a Bill Gates, obra encontra padrões incontroláveis pelos indivíduos

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há mais um best-seller na praça disposto a desvendar as razões do sucesso pessoal. Este, no entanto, não se propõe a ajudá-lo a chegar lá, pela simples razão de que isso depende muito menos do candidato à glória -ainda que brilhante- do que de uma série de conjunções incontroláveis pelo indivíduo.
O autor desse libelo de ataque aos self-made-men é Malcolm Gladwell, repórter da prestigiosa revista "New Yorker" e autor de "Fora de Série -Outliers" (Sextante).
Alguns atributos, é claro, são indispensáveis, e o principal deles é o talento. Mas o que Gladwell se propõe a investigar é o que diferencia pessoas de talentos equivalentes que têm destinos distintos. É aí que o acaso se une a processos de "seleção social" arbitrários. O primeiro exemplo dado pelo jornalista é o da escolha de jogadores para a liga júnior de hóquei do Canadá. Há um padrão curioso na escalação desses times: a maioria dos jogadores é nascida nos primeiros meses do ano.
A explicação, exposta por Gladwell, é a seguinte: como a data limite naquele país para se candidatar a uma vaga nesses times é 1º de janeiro, e o corte é feito por um limite de idade, garotos nascidos no início do ano têm uma vantagem comparativa em relação a outros, nascidos no segundo semestre.
Mesmo que tenham talentos parecidos para o esporte, os primeiros serão alguns meses mais velhos na hora da seleção, terão o corpo mais desenvolvido -uma diferença de meses na pré-adolescência é significativa- e, portanto, chances maiores de se destacarem.
Logo, uma regra arbitrária -a data para a seleção- pode influenciar o sucesso de uns em detrimento de outros.

Bill Gates na escola
O esforço, o treino, a repetição também contam, mas até para isso é preciso oportunidade -que aparece para alguns, e para outros, não. Um dos exemplos do livro é o do fundador da Microsoft Bill Gates. A ocasião que fez esse gênio de sucesso -além do seu pendor incomum para a matemática- foi a criação, na escola em que estudava em Seattle, de um clube de informática, ainda em 1968. "Bill Gates teve acesso à programação em tempo real na oitava série, em 1968. Daquele momento em diante, Gates passou a viver em uma sala de computador", diz Gladwell.
Os EUA, de forma geral, ao valorizarem culturalmente o esforço pessoal, não são exatamente o "ambiente" ideal para que teses como a de Gladwell se tornem altamente vendáveis. Ou seja, esse livro poderia ser uma espécie de jogador de hóquei mirim nascido nos últimos meses do ano. Como Gladwell então explica o seu sucesso? ("Outliers" está há 12 semanas na lista de mais vendidos do "New York Times".)
"Eu esperava um bocado de resistência", disse ele à Folha. "Mas o contrário aconteceu. Creio que o que fez a diferença foi o momento de lançamento do livro: ele apareceu justo quando a economia estava desmoronando. Foi Wall Street, afinal, que sempre defendeu com mais afinco a ideia do indivíduo como senhor do seu próprio destino."


FORA DE SÉRIE

Autor: Malcolm Gladwell
Tradução: Ivo Korytowski
Editora: Sextante
Quanto: R$ 29,90 (288 págs.)



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