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LIVROS
Jornalista analisa "seleção social" do sucesso pessoal
Para autor do best-seller "Fora de Série", crise derruba mito do indivíduo autossuficiente
Em casos de sucesso, de
grandes esportistas a Bill
Gates, obra encontra
padrões incontroláveis
pelos indivíduos
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há mais um best-seller na
praça disposto a desvendar as
razões do sucesso pessoal.
Este, no entanto, não se propõe a ajudá-lo a chegar lá, pela
simples razão de que isso depende muito menos do candidato à glória -ainda que brilhante- do que de uma série de
conjunções incontroláveis pelo
indivíduo.
O autor desse libelo de ataque aos self-made-men é Malcolm Gladwell, repórter da
prestigiosa revista "New Yorker" e autor de "Fora de Série
-Outliers" (Sextante).
Alguns atributos, é claro, são
indispensáveis, e o principal
deles é o talento. Mas o que
Gladwell se propõe a investigar
é o que diferencia pessoas de
talentos equivalentes que têm
destinos distintos. É aí que o
acaso se une a processos de "seleção social" arbitrários.
O primeiro exemplo dado pelo jornalista é o da escolha de
jogadores para a liga júnior de
hóquei do Canadá. Há um padrão curioso na escalação desses times: a maioria dos jogadores é nascida nos primeiros meses do ano.
A explicação, exposta por
Gladwell, é a seguinte: como a
data limite naquele país para se
candidatar a uma vaga nesses
times é 1º de janeiro, e o corte é
feito por um limite de idade, garotos nascidos no início do ano
têm uma vantagem comparativa em relação a outros, nascidos no segundo semestre.
Mesmo que tenham talentos
parecidos para o esporte, os
primeiros serão alguns meses
mais velhos na hora da seleção,
terão o corpo mais desenvolvido -uma diferença de meses
na pré-adolescência é significativa- e, portanto, chances
maiores de se destacarem.
Logo, uma regra arbitrária
-a data para a seleção- pode
influenciar o sucesso de uns em
detrimento de outros.
Bill Gates na escola
O esforço, o treino, a repetição também contam, mas até
para isso é preciso oportunidade -que aparece para alguns, e
para outros, não. Um dos exemplos do livro é o do fundador da
Microsoft Bill Gates. A ocasião
que fez esse gênio de sucesso
-além do seu pendor incomum
para a matemática- foi a criação, na escola em que estudava
em Seattle, de um clube de informática, ainda em 1968.
"Bill Gates teve acesso à programação em tempo real na oitava série, em 1968. Daquele
momento em diante, Gates
passou a viver em uma sala de
computador", diz Gladwell.
Os EUA, de forma geral, ao
valorizarem culturalmente o
esforço pessoal, não são exatamente o "ambiente" ideal para
que teses como a de Gladwell se
tornem altamente vendáveis.
Ou seja, esse livro poderia ser
uma espécie de jogador de hóquei mirim nascido nos últimos
meses do ano. Como Gladwell
então explica o seu sucesso?
("Outliers" está há 12 semanas
na lista de mais vendidos do
"New York Times".)
"Eu esperava um bocado de
resistência", disse ele à Folha.
"Mas o contrário aconteceu.
Creio que o que fez a diferença
foi o momento de lançamento
do livro: ele apareceu justo
quando a economia estava desmoronando. Foi Wall Street,
afinal, que sempre defendeu
com mais afinco a ideia do indivíduo como senhor do seu próprio destino."
FORA DE SÉRIE
Autor: Malcolm Gladwell
Tradução: Ivo Korytowski
Editora: Sextante
Quanto: R$ 29,90 (288 págs.)
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