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Crítica/DVD/"A Viagem do Capitão..."
Sem imaginação, Ettore Scola ilustra boa história
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"A Viagem do Capitão Tornado", de Ettore Scola, fez um relativo sucesso nos cinemas quando lançado aqui. Seu relançamento em DVD, 20 anos depois, permite avaliar os méritos e as limitações do diretor.
A qualidade primordial de Scola é como roteirista. Aqui, ele trabalha a partir do romance "Le Capitain Fracasse" (1863), de Théophile Gautier, ambientado no século 17. Mas se atém a uma parte da história, aquela em que o decaído barão de Sigognac (Vincent Perez) se junta a um grupo de saltimbancos que se dirige a Paris.
Ao deslocar o foco do barão para a trupe mambembe, Scola enfatiza o tom de farsa teatral e o trânsito entre a vida social e a representação artística.
O espírito é o da "commedia dell'arte": em torno dos encantos das três beldades da companhia (Ornella Muti, Emmanuelle Béart e Tosca D'Aquino) se desenrolam atos de traição, heroísmo e malandragem, sob a narração do ator cômico Pulcinella (o excelente Massimo Troisi). Como pano de fundo, a discussão dos vícios humanos numa época de desmoronamento da ordem feudal.
Falta de rigor
A eficácia da obra se deve mais à história narrada e ao elenco do que à "mise-en-scéne". Os enquadramentos sugerem que a câmera foi posicionada aleatoriamente. Tudo parece boiar dentro do quadro, sem precisão e sem rigor. Os atores, deixados à própria sorte, se viram como podem. Os flashbacks são "chamados" da forma mais manjada possível, com a câmera se deslocando para o mato e a imagem saindo de foco.
Tudo somado, é um filme agradável, mas que se limita a ilustrar, sem muita imaginação cinematográfica, uma boa história. Com uma situação narrativa semelhante, mas muito mais empenho, Scola tinha chegado mais longe em "Casanova e a Revolução" (1982).
A VIAGEM DO CAPITÃO
TORNADO
Direção: Ettore Scola
Lançamento: Lume (R$ 48, em média)
Classificação: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: regular
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