São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 1998

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Miramax investe US$ 1 mi em "Companheiro"

Filme de Barreto deve chegar a 60 cinemas dos EUA na corrida para o Oscar

PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

"O Que É Isso, Companheiro?", de Bruno Barreto, atingiu um recorde no mercado norte-americano: conseguiu o investimento de US$1 milhão da Miramax para "vender" a público, crítica e eleitores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas um filme brasileiro, exibido com legendas em inglês.
Mais do que qualquer discussão estética, a qualidade técnica e de acabamento da produção, a apropriação do modelo hollywoodiano de thriller e bons resultados nas pesquisas de opinião foram fatores determinantes para levar o filme à marca.
Sob o pretexto -nada desprezível- de aumentar as vantagens da produção na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, a distribuidora Miramax irá exibir "Four Days in September" (título nos EUA) em 60 cidades até o final de março. O filme estreou em 43 na última semana.
A estratégia inclui ainda publicidade em jornais revistas e uma chamada para televisão, em fase de finalização. Outra divisão da companhia, a Miramax Books, lançará no país o livro do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) em que se baseou o filme.
Tais dimensões chegam até a superar o esquema de divulgação e exibição de produções independentes norte-americanas. "Boogie Nights", por exemplo, sucesso de crítica, estava em cartaz em 48 salas na última semana, segundo a "Variety".
A campanha bate também a de filmes estrangeiros considerados fenômenos de público nos Estados Unidos. O mexicano "Como Água para Chocolate" e a co-produção França/Itália/Inglaterra "O Carteiro e o Poeta", indicada a cinco Oscar (ambas da Miramax), atingiram a marca de 40 cidades quando já estavam perto de sair de cartaz.
Oficialmente, o interesse da distribuidora pelo filme de Barreto é justificado pela alta aceitação do público norte-americano, verificada em exibições-teste e em pesquisas na saída dos cinemas.
"É um thriller político. Foi muito bem nas pesquisas. O público gostou, nós exibimos", disse Cynthia Swartz, assistente de marketing da Miramax, responsável pela divulgação do "Companheiro".
Nos testes, a história de um grupo de guerrilheiros que sequestra o embaixador norte-americano no Brasil, em 1969, teve 73% de respostas "excelente' e "muito bom'. Segundo a Miramax, a média normal é 45%.
Nas portas de cinema em Nova York, as duas respostas somaram até 75% do total. É bom ressaltar que "Companheiro" está num circuito intermediário, nem blockbuster, nem filme de arte, onde são exibidos filmes independentes, como os de Woody Allen e o britânico "Ou Tudo Ou Nada", de Peter Cattaneo.
"A grande surpresa para o público é como o filme é emocional. Eles esperavam um docudrama, um filme mais sério, experimental. Mas o filme não é chato", diz Bruno Barreto.
O diretor diz que não fez o filme pensando no mercado norte-americano. "Para mim, não há diferença entre mercados. O que fiz foi subverter um gênero hollywoodiano, o thriller. A diferença é que meu filme não é maniqueísta, não há vilões ou mocinhos."
Outro trunfo de "Companheiro" são as críticas publicadas na imprensa norte-americana. Segundo o levantamento da revista "Variety", dedicada à indústria cinematográfica, 15 foram positivas, 4 ficaram no meio-termo -incluindo a do jornal "The New York Times"- e apenas uma foi negativa, a do "Orange County Register", da Califórnia.



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